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Carlos Tavares: o português humilde que tem o “Toque de Midas”

By on 27 Novembro, 2019

Nasceu em Lisboa no dia 14 de agosto de 1958, mas foi para França e completou os seus estudos naquele país na “École Centrale Paris”. 

Chama-se Carlos Tavares, tem 61 anos e desde que tomou as rédeas do projeto Renault Megane II tem mostrado que tem o “Toque de Midas”. Na casa francesa além do Megane II, tratou de outros projetos e acabou por chegar COO da Aliança Renault Nissan, sendo o número dois atrás de Carlos Ghosn. Ele e o brasileiro tinham muito em comum: educados num ambiente onde se falava português, foram educados em escolas francesas e ambos adoram carros desportivos e o desporto automóvel.

Mas muitas outras coisas os afastam e quando Carlos Tavares anunciou que tinha o desejo de ser CEO de uma marca, recusou a exigência de Carlos Ghosn em se retratar e acabou rotulado por Ghosn como demasiado ambicioso, considerando um ataque esse desejo. Sendo apenas mais velho quatro anos que Tavares, Ghosn não tinha pretensões de abandonar o cargo de CEO e por isso, ambos entraram em choque e Tavares saiu da Renault para a PSA. 

Em 2017, tornou-se CEO do grupo PSA que não vendia mais de 3 milhões de carros por ano e que tinha sido salva da bancarrota devido a um acordo com o Estado e com os chineses. Com a sua chegada, tudo mudou e pelo caminho ainda pegou na batuta e colocou em ordem as finanças da Opel e uma operação que perdia centenas de milhões de euros anualmente, em apenas 18 meses, passou a dar lucro. Hoje, a PSA exibe margens de lucro recordistas, num ambiente em que as vendas caiem e a produção e menor. E está quase, quase, a tornar-se o CEO de um novo grupo automóvel que será o quarto maior do mundo, com mais de uma dúzia de marcas e capaz de produzir mais de 8 milhões de veículos e gerar um volume de negócios de cerca de 200 mil milhões de euros.

Para conseguir tudo isto, Carlos Tavares tem uma receita simples: foco incansável no lucro e na eficiência, criação de um ambiente de trabalho que motive os trabalhadores e os faça libertar todo o seu potencial e, sobretudo, muita humildade. É ele que diz, sempre, “o CEO é uma ferramenta para fazer as coisas acontecerem e a caixa de ferramentas é muito, muito grande!” Esta humildade permite-lhe ser honesto e verdadeiro com a força de trabalho.

Além disso, o português prefere ações a palavras e numa altura em que se fala de consolidação, Carlos Tavares fala pouco, mas compra muito. Depois da Opel e da sua espantosa recuperação, o CEO da PSA está de novo a consolidar com a fusão com a PSA. Na Opel adicionou mais um milhão de unidades que servem para pulverizar os custos de desenvolvimento, alargar a utilização das mesmas plataformas e reduzir os custos com as compras e com os custos de pesquisa e desenvolvimento. Com a junção da FCA, Tavares terá mais uma mão cheia de automóveis para pulverizar ainda mais os custos, com uma sinergia inicial superior a 3,5 mil milhões de euros.

No novo grupo, Carlos Tavares será, mesmo, o patrão. Será ele o 11º elemento do Conselho de Administração, que terá cinco elementos de cada grupo, com direito a voto e veto, tendo mais poder que Jonh Elkann, que será o presidente do novo grupo, mas que terá assento no conselho através da FCA. O português terá um contrato de cinco anos.

“A nova empresa está a avançar no que toca á sustentabilidade, investimento em tecnologia, rentabilidade e equilíbrio da força de trabalho. O sucesso para todos nós chegará mais tarde e nessa altura, ninguém se lembrará de onde vieram os administradores.” Quem o disso foi Carlos Tavares, que acrescentou “nunca as condições para uma fusão foram tão boas, pois falamos de duas enormes empresas w nenhuma delas está em crise.” Lembra o executivo que “podemos fazer mais se estivermos juntos e podemos criar mais sinergias e é por isso que surge este plano de ficarmos juntos.”

A recuperação recorde da PSA e da Opel, dão confiança a Carlos Tavares e, sobretudo, permitiu-lhe aprender muito com tudo o que aconteceu com a Opel. Ainda assim, Tavaeres é cauteloso. “Não há possibilidade de fazer o trabalho bem feito se alguém aparece a dizer ‘deixem-me ensinar-vos’. Eu nçao tenho nada a ensinar, mas sim a aprender.”

Recordamos que Tavares colocou em funcionamento o plano “Back to Race” (lembrando a sua paixão pela competição automóvel que pratica sempre que pode) que era a sua visão para o futuro da PSA. Dizia o plano que tinham os preços de ser aumentados, eliminar os canais não lucrativos, engrenar uma estratégia de modelos de base, foco apenas nos segmentos rentáveis, partilhar plataformas, melhorar a competitividade e aumentar as tacas de utilização das fábricas.

Com este “Back to Race”, prometeu em 2016, uma margem operacional de 2 % e 2 mil milhões de euros no banco limpinhos entre 2016 e 2018. Isto porque como ele sempre diz “dinheiro é rei!”. Carlos Tavares conseguiu os objetivos muito mais cedo: em 2015 registou uma margem de lucro operacional de 5%. 

Apesar de tudo isto e do trabalho que fez na Opel, os críticos de Tavares dizem que querem vê-lo numa crise a espalhar-se ao comprido. Ainda não estamos em recessão, mas o mercado está em queda, especialmente, na China. E essa é a grande pedra no sapato de Tavares, pois nenhuma das suas expetativas foram cumpridas. E ele reconhece isso. “A China é, provavelmente, a mais delicada região do mundo. Cautelas e otimismo têm de andar de mãos dadas” disse, tendo agora nas mãos, com a FCA, a possibilidade de resolver esse problema.

Outro problema reside no facto do PSA Group estar, com a compra da Opel, dependente do mercado europeu, de onde vem 80% do volume de negócios. Por isso, Tavares está a diversificar e a testar novos mercados como a África do Sul, depois do colapso do mercado argentino e de perder 400 mil unidades em vendas com as tropelias de Trump na luta contra o Irão e as sanções económicas impostas. Para o final fica o mercado americano que Carlos Tavares quer conquistar e que com esta fusão, ficará com o caminho mais facilitado. Porque a FCA tem uma quota de mercado de 13,1 %.

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