Salão de Tóquio 2019 foi, afinal, um sucesso com mais de 1,3 milhões de visitantes
Diário de um português em Tóquio com a Nissan: extras

Diário de um português em Tóquio com a Nissan: dia 4… e dia 5

By on 28 Outubro, 2019

Já que este diário tem esta qualidade verdadeiramente rara num diário de não ser diário, aqui fica a segunda parte com os dois últimos dias que, na realidade e porque acho que a coisa tem de ter coerência e perseguir a diferença face aos outros, são três dias. Ah! e teremos terceiro episódio do diário, pois o último dia no Japão pareceu aqueles DVD edição especial, com material extra que os “normais” não oferecem. Confuso? Experimente deitar-se quando devia estar a acordar, a almoçar quando devia estar a jantar, enfim, peço desculpa, mas o cérebro parece mais um novelo de Udan que outra coisa. 

Escrevo esta segunda parte do “Diário de um Português em Tóquio com a Nissan” já sentadinho no meu lugar à janela do Airbus A380 que me leva até ao Dubai. E os extras vão ser escritos a caminho de Lisboa. E assim, em dois parágrafos aviei uma série de caracteres, ofereci cultura ao falar do Udon (eu sei que anda à volta do esparguete para saber o que é) e voltei a lembrar que voei no Airbus A380. Ou seja, toquei as teclas todas do típico “mete nojo”.

A primeira parte do diário contou-vos o que foi a primeira parte da semana (absoluta lógica, embora estranha face ao que têm sido estes diários) com três dias que afinal foram dois, ficando três que, na realidade, foram quatro. Aí o Udon (ainda não sabe o que é?!) está mesmo queimadito.

Após a visita ao museu de história automóvel da Nissan e da apresentação da equipa de Fórmula E da Nissan, o terceiro dia começou bem cedo, desta feita sem falhar o pequeno almoço e dizendo presente na hora de seguir no autocarro para o Tokyo Big Sight, local do Salão de Tóquio. Uma viagem de uma horita com o habitual tráfego de Tóquio, lento mais muito ordeiro.

Chegados à entrada, centenas de voluntários vestidos com casacos amarelos e prateados, encaminhavam o pessoal para dentro do Salão. Fiquei com uma dor de cabeça fenomenal pois pertinho de mim estava um voluntarioso jovem que enrolado o programa do evento nas suas mãos, fazia-o de megafone e gritava com aquela entoação japonesa “Kon’nichiwa!!! Dare mo kono rōka ni shin’nin-jō o motte imasen, onegaishimasu!” Como todos sabem, quer dizer “Por favor!! Quem não tem credencial venha por esta zona, por favor!!!”.

Passada esta primeira provação foi tempo de calçar os sapatos de corrida e abrir os braços a nova provação: o Salão de Tóquio e as duas mãos cheias de expositores de um certame que é feudo dos construtores locais e que teve na Nissan um dos maiores destaques. 

Porém, o que se passou a seguir foi dantesco e senti-me como um condenado a tratos de polé: segundo o meu pedómetro, andei 15 630 passos. Sabe o que isso significa? Sabe?!! São quase 10 quilómetros!!!! Eu que adoro andar a pé… not! Foram quase oito horas de um lado para o outro! Mas pronto, fiquei a conhecer tudo aquilo que as marcas japonesas tinham para revelar ao mundo, mais os rapazes da Mercedes, da Alpina que também estavam em Tóquio, o novo Alpine A110S, o Renault Lutecia (o Clio) e mais alguns modelos. Na Nissan, lá estava o Ariya (que já falei detalhadamente em outra peça) o futuro dos SUV elétricos da casa japonesa.

Ainda houve tempo para fazer uma série de entrevistas, sentar um bocadinho para regenerar forças – eheheh, belo trocadilho já que estamos a falar de carros elétricos… verdade?! – para ir ao hotel, tomar um banho rápido e ir conhecer o centro de Tóquio.

Aventura total: a maioria das pessoas não falava inglês, as bilheteiras – claro! automáticas e sem ninguém – não aceitavam nada mais que dinheiro e não havia uma caixa multibanco por perto. Solução? Apanhar um táxi! Quer dizer, três, pois eramos sete.

Quando alguém me vier dizer que ficou farto de estar no transito de Lisboa, leva um pano encharcado nas fuças: para fazer os quilómetros entre a baía de Tóquio, onde estava o Grand Nikko, o meu hotel, e o centro da cidade demorou… 90 minutos!!! E nada menos que 35 euros, cada Táxi. Ouch! 

Resolvida essa “dificuldade”, lá chegámos até ao centro da mega cidade japonesa com milhares de pessoas até chegar a um dos locais mais emblemáticos de Tóquio: Shibuya Crossing. Imaginem quatro avenidas a cruzarem-se no mesmo local… impressionante!

O dia já ia tão longo que a minha mente estava quase a chegar ao hotel, mas o corpo arrastou-se até um bar… irlandês. Onde bebi uma… Coca Cola com sabor estranho e umas batatas fritas com “calamares”, enquanto so meus amigos espanhóis mandaram abaixo umas “cañas”. Recuperado o fôlego, o dia acabou com nova aventura: como regressar ao hotel? Andámos alguns quilómetros nas ruas da gigantesca Tóquio mergulhada na noite escura como breu, mas era impossível regressar a pé e ainda por cima tínhamos o jantar oficial oferecido pela Nissan. Ops!

Lá desencantamos um multibanco, não sem antes fazer figura de parvo ao tentar abrir… a janela e não a porta (que estava do outro lado) e chegamos á estação… de combóio. Errada, claro! Até porque em Tóquio há centenas de linhas de ferrovia e lá consegui convencer um dos seguranças da entrada da estação do “Tokyo Metro” (antes conhecido como Eidan Subways) a comprar-nos os bilhetes (pouco mais de 12 euros para os sete) e a explicar-nos como chegávamos ao hotel em Daiba.

Tivemos de mudar de linha, mas lá fomos no comboio sem condutor até ao hotel. Fechei os olhos e parecia que estava a ler um livro de “manga”, a banda desenhada japonesa: dentro de um comboio sem condutor naveguei por entre os arranha céus de Tóquio numa viagem irreal onde pude ver executivos a despacharem trabalho, pessoas a beber café, outras a percorrerem os corredores, tudo isto serpenteando entre 10 a 30 metros de altura do solo. Absolutamente fabuloso!

Acordei com a voz monocórdica “Daiba-eki! Ressha no hidarigawa ni doa ga hirakimasu. Densha to eki no ma no supēsu ni chūi shite kudasai. Doa ga hirakimasu” (que é como quem diz “Estação de Daiba! Portas vão abrir do lado esquerdo do comboio. Cuidado com o espaço entre o comboio e a estação. Portas abertas!”) desta minha experiência sensorial e corri para o hotel e para o tal banquete da Nissan.

Onde chegamos todos a umas bonitas horas… já estavam os zelosos empregados japoneses a recolher os talheres! Ainda deu para engolir umas fatias de carne, umas batatas fritas e uma Coca Cola Zero. E ala para a cama que o dia seguinte era de emoção. 

Isto porque a Nissan decidiu levar-nos até ao seu centro de estilo e depois de nos explicar de forma muito clara das vantagens do sistema “E-Power” (leia depois o ensaio ao Nissan Serena com este motor), os novos sistemas de conectividade, fomos até uma sala onde estava o “estado maior” da Nissan: Roel de Vries, vice-presidente para o marketing e estratégia de marca, Ivan Espinosa, vice-presidente global de estratégia de produto e planeamento de produto e Alfonso Albaisa, vice-presidente para o estilo global da Nissan.

O melhor estava por vir, mas não lhe posso contar nada sobre o que vi e sobre aquilo que é o futuro da Nissan em termos de produtos e de estilo. Posso dizer que olhei para o futuro e que o futuro da Nissan… é brilhante.

Mais uma viagem de autocarro e regresso ao Grand Nikko Hotel Daiba para regenerar energia (ahahaha, esta piadola é tao fácil…) e ir jantar num barco às voltas na baía de Tóquio. Descalço – fiquei com os sapatinhos na mão dentro de um saco – fiquei sentado no chão à boa maneira japonesa. Felizmente que havia um buraco no chão onde meter as pernas. 

Jantarinho tradicional japonês, com um australiano com muito mais álcool que sangue a correr nas veias e que me chamava “rrosé” sentado à minha frente e o meu rabiosque a ficar quadrado porque entre ele e o chão apenas uma almofadinha fininha.

Como me doía o rabo e o australiano tinha cada vez mais álcool misturado no sangue misturado no álcool, decidi subir para o tejadilho do barco, onde o vento frio era bem mais suportável que a conversa do australiano. Mas percebia-se que o tempo estava a piorar e que se aproximava uma borrasca. Atracamos já debaixo de forte chuva, apanhei uma molha daquelas e cheguei ao hotel para tomar um banho quente e enfiar-me na cama. 

Estava chegado ao fim o penúltimo dia desta epopeia que foi ir até ao Japão ao Salão de Tóquio. Bem enroscado nos braços da esposa do Morfeu (desculpem esta minha incapacidade de estar nos braços de outro homem ou de não fazer a apologia da fusão do género) vieram as saudades da filhota, da esposa, dos amigos, enfim, o tempo longe começava a cobrar imposto e foi de lágrimas nos olhos que adormeci.

O último dia em Tóquio foi uma parvoíce. A chuva intensa e o muito vento faziam o edifício do hotel abanar – a gestão do hotel deixou no quarto um aviso sobre isso – e não sei porquê, voltei a atrasar-me para o pequeno almoço. Mas desta feita não tive de jogar charme para cima de ninguém. Engolidos dois papos secos com ovos mexidos, uma fruta e uma “gaufre” açucarada… um café de saco mal amanhado caiu no estômago quase ao mesmo tempo que chegava o anti-climax! 

Apavorados com a eminência de mais um tufão, os japoneses da Nissan anularam a paródia prevista para a despedida: andar num circuito com carros icónicos como o Skylane e o GT-R e alguns modelos só à venda no Japão. De tudo isso, sobrou um curto ensaio ao Nissan Note e ao Nissan Serana equipados com o motor E-Power.

Cumprido esse ensaio debaixo de muita chuva e vento, dediquei o resto do tempo… às compras. Como havia um centro comercial do outro lado da auto estrada, meti pernas a caminho e… banho!!! A chuva caia às bátegas e eu de ténizinho da moda, coletezinho de penas a cobrir a peitaça e mangas de camisa, ou seja, cheguei ao maldito centro comercial encharcado a espirrar e a tossir e pensar que “vais chegar bonito a Lisboa.”

Podem dizer que seria evitável ir ás compras. Claro que sim, mas como tive de fazer a mala para a deixar na receção – era o da saída rumo a Lisboa – esta cansou-se de ser maltratada e começou por me deixar “pendurado” com o manipulo na mão. Como não desisti de a maltratar, decidiu-se abrir-se como uma melancia, espalhando roupa, cuecas, meias e mais algumas coisas pelo chão. Apanhei tudo, encafuei dentro do que restava da mala, levei-a para o centro de imprensa da Nissan no hotel e lá tive de ir passar pela tormenta que contei acima.

Curiosamente, os japoneses são parecidos com os marroquinos no que toca ao negócio. Entrei numa loja – relutante pois parecia-me daquelas lojas para turista rico ser enganado – e tentei encontrar uma mala de viagem grane o suficiente para levar os meus trajes. Depois, com o preço certo.

Lá escarafunchei a loja e encontrei algo em conta, dirigindo-me à japonesa – gira por sinal! – que estava na caixa. O preço era de 10 mil ienes. Perguntei pelo “tax free” e depois de muitos “yes yes yes” e perante alguma impaciência minha que elevou o tom de voz para um patamar entre o urso e o “Bumblebee” dos “Transformers”, lá foi buscar o chefe que num inglês escorreito me explicou que o preço já contemplava o “Tax Free”. Aproveitando a bonomia do jovem, disse-lhe que vinha de um reino bué bué bué longe e que precisava de um desconto. Embora parecido com o Shrek, não tenho o caparro do ogre e esta primeira tentativa rechaçou na indiferença japonesa. Voltei a tentar e a verdade é que de uma forma natural, o jovem baixou o preço para um valor mais simpático. 

Feita a compra, era hora de voltar ao hotel para arrumar a roupinha e preparar para caminhar rumo ao aeroporto de Narita. Antes ainda reconfortei o estômago com uma tijela de Udan (esparguete) com carne e uns camarões panados mais um frango meio picante.

Arrumada a roupa e mais algumas coisas dentro da nova malinha – uma bela réplica de uma American Tourister de excelente qualidade – chegava a hora das decisões: a que hora sair do hotel? E aqui tudo se complicou. A história fica para os “extras” deste diário. Cheguei a Lisboa, mas o caminho foi duríssimo!

Já estou em Lisboa, vivo e de boa saúde e por isso quero agradecer ao excelente serviço da Emirates. Mas esta semana foi muito mais interessante pela companhia de seis bons colegas de trabalho e amigos espanhóis. Que me provaram, mesmo já sabendo, que aquela máxima “de Espanha nem bom vento nem bom casamento” é uma idiotice: se o vento é mau é porque estamos mal posicionados, quanto ao casamento, é porque escolheram mal a espanhola.

Os meus companheiros de viagem foram excelentes e por isso, em primeiro lugar, tenho de agradecer ao Francesc Corberó, o responsável pela Nissan que nos acompanhou. Competente, educado, divertido e sempre a tentar integrar-me com o grupo, foi companheiro de viagem na louca aventura que foi chegar a Narita no último dia de viagem. Obrigado Francesc!

Depois, um abraço enorme ao jovem Carlos Drake, ao educadíssimo e Ivan Mingo, ao divertido Javier Menendez, ao rigoroso Xavi Perez e ao divertido Félix Garcia. Foram todos excelentes não me deixando sentir como o “portuga” do grupo. O meu “portunhol” não ajudava, mas eles não se preocuparam e sempre me incluíram, até nas brincadeiras. Por isso tenho de o dizer em castelhano “mis amigos fue de puta madre!!!!!!”

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