Novo Toyota C-HR PHEV: Primeiras impressões
Novo Toyota C-HR PHEV: As novidades por dentro e por fora

Primeiro ensaio Toyota Camry: refinado, económico e confortável

By on 24 Maio, 2019

O Camry saiu do mercado europeu depois de uma passagem pouco mais que anónima por estas bandas, muito por culpa do estilo virado para os gostos americanos e pelas mecânicas a gasolina, odiadas pelos europeus que endeusavam o diesel. Enfim, nem tudo o que serve aos americanos encaixa na maneira de ser dos europeus e o Camry seguiu o seu caminho de sucesso nos EUA – é o automóvel mais vendido se descontarmos as “trucks” com mais de 400 mil unidades vendidas – e nos mercados asiáticos, deixando apenas um curto rasto de carros usados no Velho Continente de onde desapareceu em 2004. Em Portugal ainda andam aí alguns com motor 2,2 litros.

Quinze anos depois, o mundo está diferente. O Dieselgate demonizou o antes endeusado diesel, os políticos endoideceram e desataram a reduzir as emissões de CO2 e numa fuga para diante, os elétricos passaram a ser a solução para tudo. Pelo meio, fica a tecnologia híbrida que há duas dezenas de anos a Toyota tem insistido em desenvolver e apostar, mesmo contra tudo e contra todos.

E ironia das ironias, aquilo que “matou” o Camry, é aquilo que ligou o desfibrilhador para o ressuscitar para o mercado europeu. E aqui está ele, com uma plataforma nova (que é partilhada com o Lexus ES) e uma única mecânica híbrida, desta feita com o motor de combustão interna a ser o bloco de 2.5 litros a gasolina. 

Híbrido poderoso

O sistema, conhecido como “Dynamic Force”, utiliza uma injeção direta e indireta consoante as necessidades (D-4S), tem funcionamento em ciclo Atkinson, sistema inteligente de temporização das válvulas através de motor elétrico (VVT-iE), as condutas de admissão são desenhadas para otimizar o fluxo, bomba de óleo de descarga lateral controlada eletricamente e, finalmente, um sistema de refrigeração que utiliza uma bomba de água elétrica, um termostato controlado eletronicamente e uma válvulas de fecho de fluxo (FSV). Tudo isto permite que a mecânica híbrida do Camry tenha 41% de eficiência, recordista em termos de eficiência de um motor a gasolina.

Contas feitas, são 218 CV e um binário de 221 Nm (o motor elétrico debita 88 kW e 202 Nm), cifras que permitem uma aceleração 0-100 km/h em 8,3 segundos, uma velocidade máxima limitada a 180 km/h e um consumo médio de 5,5 l/100 km com emissões de 125 gr/km. A este sistema está acoplada a caixa e-CVT da Toyota que aqui passa a chamar-se “Sequential Shiftmatic” que permite ao condutor se entusiasmar (pouco) e passar de caixa com o comando, assemelhando-se a uma unidade convencional automática de seis marchas.

Adaptado aos europeus

Foi trágico no passado, por isso a Toyota não quis cometer o mesmo erro e, dizem os responsáveis da marca, o Camry foi adaptado às condições e gostos dos europeus. Quer isto dizer em linguagem automóvel que há mudanças nas suspensões e na afinação do carro para ser mais competente a curvar do que é nos EUA. 

A verdade é que não me parece que tenham sido assim tão profundas as mudanças. O percurso que me levou até Campo Maior, Alentejo, foi maioritariamente em autoestrada e ficou a sensação que este é um carro que se delicia a devorar quilómetros em estradas suaves e não tem grande apetência para andar em estradas estreitas e retorcidas. Razões para esta minha afirmação?

Primeiro, uma direção suave e que responde sem hesitações aos nossos desejos, com o peso certo, mas que precisava de ser um pouco mais rápida quando a estrada encaracola. Depois, o Camry tem suspensões macias e admite algum movimento da carroçaria, uma afinação diferente da do Lexus ES, mais firme e reativa.

Mas, curiosamente, foi a suspensão que mais me impressionou, juntamente com o nível de refinamento. Apesar da afinação escolhida, o sistema lida muito bem com as irregularidades da estrada, com as lombas, enfim, com tudo o que uma estrada possa atirar-lhe, sem que parece descontrolado ou tenhamos aquela sensação de estar a flutuar sem controlo. Isso nunca sucede e impressiona rolar numa estrada nacional ou municipal e perceber que 90% das irregularidades não lhe chegam às costas. E como testei as várias versões e cheguei a ter num dos Camry jantes de 19 polegadas, mais impressionado fiquei com o conforto oferecido.

Se as suspensões têm este papel, a verdade é que todo o carro é muito refinado com controlo absoluto sobre os ruídos interior e exteriores, com a mecânica a estar amarfanhada debaixo do capô de tal forma que em autoestrada mais parece que vamos ao volante de um carro elétrico. Excelente!

Claro que a minha prosa vai desaguar no problema do costume, a caixa e-CVT que por muito que a Toyota invista nas suas características, nunca vai ser capaz de rimar com o motor. Ou seja, aceleramos, o motor grita e grita e o andamento não corresponde. Que querem que vos diga? Detesto o sistema, porém, dou a mão à palmatória: o sistema esta fiabilizado, pago e industrialmente é fácil e económico de produzir. É um bocadinho como a escolha da bateria de hidretos metálicos de níquel e não de iões de lítio. A segunda opção é melhor, mas é mais cara e a primeira tecnologia já permite acomodar a bateria sem incomodar passageiros e carga, portanto a escolha é lógica. Por isso é que a Toyota tem uma margem de lucro operacional que os outros só sonham em conseguir.

Dito isto, sendo uma mecânica a gasolina e com menos binário que um bloco diesel, não raras vezes temos de puxar pela aceleração e lá se nota o ruído do motor. Mas tudo muito bem controlado.

Interior de qualidade

A qualidade do Camry impressiona, pois quase tudo tem uma montagem muito sólida e a verdade é que não há muito automóveis desta classe com esta qualidade. Mas estamos a falar de um carro da Toyota e a marca japonesa há anos que é assim: falta rimar a qualidade real com a percetiva e continuam a não fazer conseguir oferecer o material certo no lugar certo. A mescla de plásticos de qualidade com outros sofríveis não merece crítica, todos o fazem até os Premium, já a utilização dos primeiros em locais onde deveriam estar os segundos é menos compreensível. Não se percebe o aspeto barato do forro do tejadilho e da consola de teto que está por cima das nossas cabeças, o plástico suave a almofadado da parte inferior da consola e depois as forras das portas terem plástico mais rude. Há mais exemplos, mas bastam estes para se perceber a filosofia da Toyota. Ou seja, a qualidade é muita, mas algumas vezes as coisas tendem a não rimar.

Para lá da qualidade que, reconhecidamente, tem, o Camry exibe o trunfo final quando abrimos as portas: espaço! Impressiona o espaço livre à frente e atrás e só mesmo alguém muito acima dos dois metros de altura se poderá queixar do espaço para as pernas no banco traseiro. Não andei de fita métrica na mão, mas a “olhómetro” penso que é o maior habitáculo do segmento. Mas há mais.

Graças às baterias e a uma suspensão desenhada levando em conta o posicionamento das baterias debaixo do banco traseiro, não há roubo de espaço no habitáculo ou na bagageira que com 524 litros consegue ultrapassar o líder do segmento, o VW Passat GTE. E deixe-me dizer-lhe que me pareceu uma medição conservadora, pois o que há debaixo do capô traseiro do Camry é um buraco negro. Impressionante.

Menos feliz é o sistema de info entretenimento do Camry. O pequeno ecrã tem apenas 7 polegadas e o sistema está envelhecido e nem sequer tem Android Auto ou Apple CarPlay. Ainda por cima o sistema é lento. E isto é algo que não se espera de uma marca que a dado momento parecia que estava na linha da frente destes sistemas. De repente… segue na cauda do pelotão e vai perdendo cada vez mais o contacto com os melhores. Nos tempos que correm não é uma boa estratégia, digo eu.

Já sei que está a pensar que ainda não lhe disse nada sobre o estilo do Camry. O carro não é novo e foi lançado nos Estados Unidos há algum tempo. Curiosamente, o primeiro esboço é europeu e depois evoluiu para o atual desenho do carro. Que lhe posso dizer? Não é bonito ou feio, é elegante, arrojado visto de certos ângulos, mas tem natural dificuldade em esconder as dimensões generosas próximas dos cinco metros de comprimento.

Veredicto

A sofisticação e qualidade dos sistemas híbridos da Toyota começam, finalmente, a pagar dividendos e a marca japonesa está a ser devidamente recompensada pelo arrojo há vinte anos de apostar no caminho da eletrificação através de híbridos de recarga própria quando todos apostavam no diesel como o futuro. O Camry é a epítome desse esforço e dessa resiliência: um carro confortável, bem isolado, económico (médias verificadas inferiores a cinco litros de gasolina por centena de quilómetros), espaçoso e muito fiável. Inevitavelmente, a outra face deste Camry não é defeito, é assim mesmo: a mecânica híbrida é pensada para ser eficiente e não desportiva, é pensada para defender o ambiente e não para nos oferecer emoções, enfim, é demasiado certinha para os nossos gostos. O sistema de info entretenimento está desatualizado e a tal mistura de materiais acaba por ser desapontante. Isso não ofusca todos os pontos positivos do Camry que não conhecerá enorme sucesso entre nós porque ainda não estamos conscientes que o futuro do automóvel vai passar por carros como o Camry. Seja como for, até pelos preços (ver aqui), pelo equipamento e pelas suas qualidades, este Toyota merece ter a oportunidade de o seduzir na hora de trocar de carro.

FICHA TÉCNICA

Toyota Camry

Motor4 cilindros em linha, injeção direta e indireta; Cilindrada (cm3)2487; Diâmetro x curso (mm)84 x 94,6; Taxa compressão14,1; Potência máxima (cv/rpm)218/3600 – 6500; Binário máximo (Nm/rpm)221/3600 – 5200 (motor elétrico com 88 kW e 202 Nm); Transmissão e direçãoTração dianteira, caixa e-CVT; direção de pinhão e cremalheira, com assistência elétrica; Suspensão(fr/tr)Independente, McPherson; independente duplo triângulo; Dimensões e pesos(mm)Comp./largura/altura 4885/1840/1455; distância entre eixos 2825; largura de vias (fr/tr) 1580/1605; travões fr/tr. Discos vent./discos; Peso (kg)1595;Capacidade da bagageira (l)524; Depósito de combustível (l)50; Pneus (fr/tr)225/45 R 19; Prestações e consumos aceleração 0-100 km/h (s) 8,3; velocidade máxima (km/h) 180; Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) – / – / 5,5 ; emissões de CO2 (g/km) 125; Preço (Euros)entre 43.990 e 49.690 euros

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