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PSA ultrapassou Mercedes e BMW na rentabilidade

By on 2 Setembro, 2019

O universo automóvel está, mesmo, virado do avesso: antigos reis da rentabilidade, BMW e Mercedes estão, agora, atrás do PSA Group!

O segundo trimestre de 2019 só trouxe más notícias para BMW e Mercedes, com os lucros a recuarem e a rentabilidade a descer a níveis pouco habituais. Contas feitas, a BMW acabou o primeiro semestre com um EBIT (lucros antes de impostos e juros) de magros 2,8%, enquanto que a divisão automóvel da Mercedes caiu para impensáveis 1,4%! Basta recuar uns anos e perceber que a BMW já esteve nos 8% e a Mercedes nos 10%. Algo que fez destes dois gigantes, dos mais rentáveis do universo automóvel.

Infelizmente para os seus CEO (Harald Kruger e Dieter Zetsche, respetivamente), os tempos são outros e foram levados na enxurrada de maus resultados que apoquentam os dois construtores.

E para que se perceba como as coisas mudaram, no final do primeiro semestre, a marca Volkswagen registou uma rentabilidade de 5,2% (uma enorme melhoria face a anos anteriores) e a Skoda, marca do grupo VW, acabou o semestre com um registo de 8,1% de EBIT. Porém, o grande vencedor desta “guerra” é mesmo o PSA Group liderado por Carlos Tavares, que inscreveu um EBIT ajustado de 8,7%. Até a Audi, que sofreu bastante em termos de vendas com o protocolo WLTP e seus constrangimentos, conseguiu uma EBIT de 8%. Embora neste valor existe uma engenharia financeira que permitiu que o resultado fosse inflacionado em 1%, só para fazer corar de inveja os homens da BMW e da Mercedes.

Convirá saber porque razão a margem de lucro encolheu tanto nos casos da BMW e da Mercedes. Em primeiro lugar está o massivo investimento feito nas novas tecnologias e na eletrificação. A Daimler, dona da Mercedes, investiu quase 5,8% do seu lucro em pesquisa e desenvolvimento nos primeiros seis meses de 2019, sendo que todos os anos o esforço de investimento tem vindo a crescer desde 2014, depois de ter registado o valor mais elevado em 2009, com 5,3%.

Na BMW, o rácio de investimento em pesquisa e desenvolvimento é de 5,9% da rentabilidade, quando em 2018 foi de 7,1%. O maior valor jamais gasto pela BMW em pesquisa e desenvolvimento, pois as cifras nunca subiram acima do intervalo entre 5 e 5,5 %. Este nível de investimento era possível com os lucros oriundos do mercado chinês, mas a China vai enfrentar segundo ano de contração das vendas o que é um problema gravíssimo para os construtores alemães, demasiado expostos ao maior mercado mundial. Para piorar as coisas, a guerra comercial entre os EUA e a China ameaça derreter os gulosos lucros que a BMW e a Mercedes conseguiam com as vendas dos seus SUV, construídos nos EUA, na China. A retaliação dos chineses, fechou essa torneira.

É aqui que a pouco exposição do PSA Group ao mercado chinês e nula ao mercado norte americano, acaba por ser, agora, uma vantagem. O falhanço do PSA Group e de outros construtores europeus, como o grupo Renault e a Fiat Chrysler Automobiles, em estabelecer-se de forma significativa na China, é agora a bênção que permite ter rentabilidade impressionante.

Ou seja, os alemães escolheram usar o estatuto Premium para se imporem no mercado chinês, dominando as variações do mesmo de forma hábil. Erraram na assumpção que não haveria recessão na China. Porém, esta pode ser uma tempestade passageira, já que as previsões apontam para uma recuperação do mercado chinês nos próximos anos. Mas, por enquanto, os alemães foram ultrapassados pelos outros europeus e pelo toque de Midas de Carlos Tavares ao leme do PSA Group, pagando com juros o preço do sucesso na China. Veremos como será nos próximos anos.

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