Como se mede a autonomia real de um automóvel 100 por cento elétrico?
Mazda vai aumentar gama SUV com dois novos modelos

Guia AUTOMAIS sobre o WLTP: sabe (mesmo) tudo sobre o protocolo?

By on 14 Julho, 2020

Não há retrocesso e pós isso estes novos termos vão entrar no léxico dos consumidores, mesmo que muitos de vós, ainda, não entendam patavina daquilo que significa WLTP, RDE, Euro6d-Temp ou CF. Natural! É muita coisa… Mas o AUTOMAIS está aqui para ajudar e criou este guia para compreender o que é o protocolo WLTP.  Vamos lá perceber o que são todas estas siglas e protocolos.

O novo protocolo de homologação de consumos e emissões vem substituir o ciclo NEDC (New European Driving Cycle) criado na década de 80 do século passado. Chama-se WLTP (Worldwide Harmonized Light Veihcle Test Procedure), foi introduzido em setembro de 2017 para novas gamas. A partir de setembro de 2018 será obrigatório para todos os modelos vendidos a partir dessa data.

O que é o teste WLTP?

Apesar de ainda ser um teste laboratorial, o WLTP introduz a componente de utilização em condições reais para oferecer aos consumidores dados sobre consumo e emissões o mais próximo daquilo que vai conhecer durante uma utilização real. Ou seja, para acabar com as discrepâncias entre os valores homologados e aquilo que o computador de bordo nos diz após uma viagem.

O WLTP consiste em várias fases (quatro) que estão baseadas no perfil de condução de milhões de condutores de todo o mundo. Comparando com o NEDC, o novo sistema e mais dinâmico, contabiliza muito menos paragens (onde o sistema Stop&Start influi bastante) e usa velocidades mais elevadas durante mais tempo, refletindo desta forma uma utilização mais fidedigna.

Outra diferença reside nos modelos testados. No NEDC, as marcas utilizam veículos de base, com pouco ou nenhum equipamento e o mais leve. No WLTP, o ensaio é feito ao modelo mais leve da gama e ao mais pesado e todos os equipamentos, de série ou extra, são levados em linha de conta. Porque é impossível medir todos os modelos consoante os níveis de equipamento e os opcionais, foi criada uma fórmula complexa que permite calcular, com absoluta precisão, os valores de emissões de CO2 e de consumos de todos os níveis de equipamento. Outra vantagem desta fórmula é que permite aos consumidores saberem quais os valores para todos os modelos da gama e não apenas para os motores.

Naturalmente que a introdução do WLTP resultou no aumento dos valores de CO2 e de consumo publicados, mas você caro leitor, estará mais bem informado e verá que aquela coisa do “ah o meu carro consome 4,5 l/100 km, mas nunca consegui menos de 7 litros” deixará de acontecer.

O que é o Euro6d-Temp?

Aqui misturam-se o RDE e o CF. Confuso? Claro! Vamos lá tentar perceber o que são estas siglas.

O RDE (Real Driving Emissions) é o teste que mede poluentes como o NOx e as partículas que são emitidos por um veículo quando está a ser utilizado em estrada. Este teste complementa o WLTP – que é feito em laboratório enquanto o RDE é feito em estrada – assegurando que os veículos continuam a emitir baixos níveis de emissões, mesmo quando são testados em condições típicas de um utilizador normal. Como o caro leitor! Como isso é feito?

Para fazer a medição RDE, é instalado no veículo um PEMS (Portable Emission Measuring System) um medidor de emissões portátil que oferece, como é evidente, monitorização em tempo real e diretamente do veículo numa utilização real. Porém, o PEMS tem uma dificuldade de base: não tem consegue a precisão dos testes laboratoriais e os desvios podem ser assinaláveis, até 40 mg/km de NOx. Além disso, os PEMS são afetados pela altitude e pela temperatura ambiente e podem oferecer leituras menos precisas pela inevitável tolerância necessária para os sensores que recebem informação do veículo em condições agrestes.

Aqui entra em ação o CF (Conformity Factor) um fator de conformidade que permite acomodar os desvios naturais, pela sua génese, do PEMS. Assim, para o NOx, o CF é de 2.1 para o primeiro teste e 1.5 para o segundo, no caso das partículas, o valor é sempre de 1.5. Isto quer dizer que, por exemplo, um carro não pode emitir 50% mais de NOx do que o máximo medido em laboratório. Ou seja, um carro que emita, no WLTP 100 mg/km de NOx, não pode emitir mais de 150 mg/km de NOx durante o RDE.

O Euro6D –Temp é assim a nova norma que se baseia na anterior Euro6, está em vigor desde setembro de 2017, mas passa a ser obrigatório para todos os veículos novos a partir de setembro de 2018. Os limites são os mesmos do Euro6, mas agora passam a incluir o teste WLTP e o RDE.

Naturalmente que com a introdução do WLTP e do RDE, os valores subiram bastante e para cumprir a norma Euro6d-Temp é necessário várias medidas anti-poluição como o filtro de partículas para os modelos a gasolina e a utilização de redução seletiva (SCR) e de ureia líquida (AdBlue).

Transição NEDC para WLTP

  • A partir de setembro de 2018, todos os carros novos vão ser certificados de acordo com o protocolo WLTP, acabando o NEDC. A exceção são os veículos novos em “stock”, mas limitados a 10% das vendas do ano anterior. Todos os veículos matriculados antes de setembro de 2018, podem ser vendidos posteriormente a essa data.

– Vão os valores de consumo e emissões aumentar nos veículos?

Não, o que aumenta são os valores referidos nas brochuras e na comunicação das marcas, já que o WLTP mede de forma diferente do NEDC. Ou seja, os valores anunciados vão ser mais fidedignos e aproximados de uma utilização em condições reais do que até agora.

  • A partir de janeiro de 2019 todos os concessionários vão ter de exibir, obrigatoriamente, os valores de emissões e consumos segundo a norma Euro6D com protocolo WLTP. Todas as referências ao NEDC serão apagadas para não criar confusão nos consumidores. Os Governos vão ter de ajustar a tabela fiscal e os incentivos ao abate ou ás emissões de CO2, caso existam, aos valores WLTP, respeitando o princípio que o impacto do WLTP nos consumidores deve ser nulo. Em Portugal… veremos!
  • A partir de 2020 a Comissão Europeia irá converter os limites e objetivos de emissões de CO2 baseados no protocolo NEDC para objetivos e limites específicos com base no WLTP. Serão os valores WLTP que serão usados para monitorizar a média de emissões da gama de um construtor

O novo protocolo WLTP afetará os objetivos de emissão de CO2?

Todos os objetivos e limites de emissões que os construtores têm de cumprir até 2021 estão baseados no protocolo NEDC. Com a introdução do WLTP a partir de setembro de 2017, os valores apurados debaixo deste novo protocolo têm sido convertidos para o NEDC para ser, assim, possível monitorizar os limites de CO2 impostos ás gamas dos diversos construtores. Este exercício de correlação tem vindo a ser feito pela Comissão Europeia e será determinante para que os objetivos e limites a partir deste ano, debaixo do protocolo WLTP, possam ser estabelecidos.  Por isso mesmo é que algumas marcas e fornecedores de sistemas de tratamento de gases de escape estão a trabalhar, afincadamente, para encontrar soluções. Além da ureia líquida (AdBlue) a Bosch tem uma nova solução que pode estar pronta entre dois a três anos e que reduz de forma significativa as emissões de NOx. Uma esperança para os motores diesel, já que em termos de CO2 tem uma boa vantagem face aos blocos a gasolina.

Ensaios: consulte os testes aos novos carros feitos pelos jornalistas do Auto+ (Clique AQUI)