ENSAIO: Jaguar XE 2.0D Prestige Auto

By on 27 Janeiro, 2016

Agora através de um modelo 100% próprio (o famigerado X-Type mais não era do que uma emanação do Mondeo de então, dos tempos em que a marca britânica ainda fazia parte do Premier Automotive Group da Ford), a Jaguar está de regresso aos familiares médios de prestígio com o novíssimo XE. Um modelo que promete agitar

as águas num segmento historicamente dominado pelos construtores alemães, e que, desta feita, para além do nome do seu fabricante, parece reunir um lote de argumentos que lhe permitirá enfrentar sem complexos os seus grandes rivais da Audi, BMW e Mercedes.

Em Portugal, e como seria de esperar, será nas versões a gasóleo que assentará o grosso das vendas da nova coqueluche britânica, estando disponíveis duas variantes do novo motor turbodiesel Ingenium de 2.0 litros da marca de Coventry: 163 cv, exclusivamente proposta com caixa manual de seis velocidades; e 180 cv, em que é possível optar pela transmissão manual ou pela caixa automática de oito relações.

Para este primeiro ensaio, a Jaguar apostou na versão mais potente, dotada de caixa automática e do nível de equipamento Prestige. A primeira prova de que este XE é mesmo uma lufada de ar fresco na sua categoria está num fator tão subjetivo quanto determinante: a aparência exterior. A par da atração que o nome Jaguar sempre exerce sobre a maioria, e mais ainda em Portugal, onde a marca continua a ser por demais aspiracional e sinónimo de status, o XE conta com linhas praticamente irresistíveis, em que se destacam a frente agressiva e o perfil extremamente fluído e elegante, principais responsáveis por um resultado final dinâmico e distinto, quase deslumbrante.

E “quase” porque a traseira, não sendo, propriamente, feia, acaba por ser menos bem conseguida, porque menos original e mais convencional. Nada que manche, todavia, o magnífico desenho global da carroçaria. O habitáculo, estando longe de desiludir, talvez seja o ponto em que o XE mais necessite de evoluir ao longo do seu ciclo de vida. Desde logo porque a linha do tejadilho – em acentuada quebra em direção à traseira – e a pronunciada inclinação do óculo posterior, fatores que tanto contribuem para o dinamismo das linhas exteriores, têm nefastas consequências para os passageiros de maior estatura que pretendam viajar atrás.

Não só estão limitados em altura, como esta limitação dificulta notoriamente o acesso ao banco traseiro – é pena, até porque as restantes cotas de habitabilidade são de bom nível, incluindo o espaço para pernas atrás. A este propósito, valerá a pena sublinhar que também a capacidade da mala é cerca de 10% inferior aquilo que a concorrência oferece, além de que o acesso à mesma não é dos mais fáceis, condicionado por uma abertura algo estreita. De regresso ao habitáculo, o design e a decoração, não sendo desagradáveis à vista, poderão defraudar algumas expectativas mais otimistas por não serem, nem tão encantadores quanto o estilo exterior, nem tão distintos e originais como o conhecido de outras propostas da Jaguar. Ainda assim, a qualidade geral está em muito bom plano (haverá um material ou outro, um pormenor de acabamento ou outro, que impedirão que o resultado global seja tão uniforme como nos alemães, mas tendentes a ser despiciendos numa avaliação final), e o posto de condução é excelente – baixo, com múltiplas regulações para banco e volante, e com praticamente tudo ao alcance da mão.

A rever em futuras oportunidades, alguns pormenores de ergonomia e funcionalidade. Por exemplo, o seletor dos quatro modos de condução disponíveis (Dinâmico, Normal, Eco e Neve), situado junto ao manípulo de comando da caixa, não é o mais lógico ou intuitivo (mais por culpa do grafismo utilizado do que da própria colocação dos botões); e a operação do computador de bordo, através dos comandos no volante, e com visor no painel de instrumentos, continua a não ser a mais linear. O sistema de infoentretenimento, comandado através de um ecrã tátil de 8” é completo, é rápido e fácil de operar, mas o respetivo grafismo parece algo simplista, básico até, em nítido contraste com a sofisticação estilística até aqui evidenciada. Só que, para os amantes da condução, estes não serão mais do que pormenores menos brilhantes, absolutamente sublimados pelo desempenho dinâmico do novo XE. Assente na mesma plataforma modular que serve o XF e o futuro F-Pace, logo nos primeiros quilómetros a nova berlina britânica impressiona pelo elevado conforto de marcha, pela leveza da condução, pela facilidade com que tudo se processa, pautada ainda pelo tato excecional de todos os comandos.

Aumentando um pouco mais o ritmo, vêm ao de cima qualidades como a frente muito rápida e acutilante; a traseira fiel e dinâmica; a competência do sistema de vetorização de binário nas solicitações mais exigentes em curva; a eficiência da suspensão na assimilação das irregularidades do piso e no lidar com as transferência de massa – que se traduz num controlo perfeito dos movimentos da carroçaria; os potentes travões; a direção (a primeira de assistência elétrica da Jaguar) rápida, informativa e sempre muito bem assistida. De fato, no que ao comportamento diz respeito, pela sua agilidade e envolvência, o novo Jaguar XE nada tem a temer da comparação com os seus rivais mais reputados – antes pelo contrário! Na versão em análise, a mais poderosa entre as equipadas com motores Diesel, ficou também patente que as potencialidades do chassis estão muito para além das capacidades da mecânica. É que, por um lado, e apesar de a sua estrutura ser 75% composta por alumínio, o XE não é tão leve como tudo isso, devido também às dimensões generosas da plataforma que lhe está na génese; por outro, e não obstante anunciar 180 cv de potência, e um binário máximo de 430 Nm logo às 1750 rpm, o fato é que esta unidade motriz fica aquém das expectativas, nas prestações como nos consumos – andando sempre menos, e gastando sempre mais, do que o esperado e prometido.

Uma situação que nem o fantástico trabalho levado a cabo pela caixa automática de oito velocidades consegue escamotear, não obstante a sua extrema rapidez e suavidade de funcionamento, no modo totalmente automático como manual. E o pior é que esta ‘anemia’ é acompanhada ainda de um funcionamento algo ‘áspero’ do motor, especialmente evidente no excesso de ruído por si emanado, e que é impossível evitar invada o habitáculo, especialmente em carga e/ou a regimes mais elevados, acabando por perturbar o bom ambiente que se vive a bordo. Também por isto, e numa unidade que contava com opcionais jantes de 18”, revestidas por pneus 225/45, não é de estranhar que seja o XE 2.0D a versão preferencial do modelo para tirar pleno partido de uma traseira viva, e que não é nada difícil de provocar, e depois controlar com acelerador e volante (obviamente desligando-se primeiro o ESP, o que é possível de realizar em duas fases), o que nesta variante é possível de fazer com algum empenho, e nunca se conseguindo prolongar por aí além a deriva de traseira. Assim sendo, talvez o melhor elogio que se possa fazer à dinâmica do XE 2.0D, já de si muito divertido e eficaz, é que, depois de conduzi-lo, fica a sobrar a vontade de experimentar o modelo na sua versão a gasolina de 340 cv, em que será, seguramente, mais fácil quebrar a ligação entre borracha e asfalto, e mais substantiva a emoção ao volante…

Indubitavelmente uma das novas referências do segmento no que à competência dinâmica diz respeito, o Jaguar XE pode não ser um automóvel tão friamente equilibrado e homogéneo quanto os seus opositores germânicos, mas é, seguramente, uma proposta diferente e muito a ter em conta na sua categoria, em que amiúde a emoção leva a melhor sobre a razão. E não será pelo preço que quem esteja disposto a confirmá-lo deixará de fazê-lo: sem ser barato, o XE a gasóleo é proposto entre nós a valores concorrenciais para a sua classe, estando disponível a partir de 43 mil euros na versão manual de 163 cv; por um pouco menos de 44 mil euros na variante de 180 cv manual: e desde 46 421 € na variante de acesso com motor de 180 cv e caixa automática. A versão em análise, com o nível de equipamento Prestige, tem um preço base de 48 887 €, que na unidade ensaiada subia para 62 319 € por via da inclusão de um lote importante de extras que muito contribuem para o agrado de utilização, mas que não primam, de todo, pelos preços baixos que praticam. Em compensação, o XE 2.0D Prestige já inclui no seu PVP um equipamento de série bastante generoso e completo, que ajuda a justificar a verba que por ele a Jaguar pede.

Texto: António de Sousa Pereira

Jaguar XE 2.0D

Preço 48 887 €

Motor: 4 cil. em linha, inj. direta common-rail, turbo, intercooler, gasóleo, 1999 cm3

Potência: 180 cv/4000 rpm

Binário: 430 N.m/1750-2500 rpm

Transmissão: traseira, cx. automática 8 veloc.

Suspensão: independente com triângulos sobrepostos; Independente multibraços

Travagem: DV/D

Peso: 1565 kg

Mala: 455 litros

Depósito: 56 litros

Velocidade máxima: 225 km/h

Aceleração 0-100 km/h: 7,8s

Consumo médio: 4,2 l/100 km

Consumo médio AutoSport: 5,62 l/100 km

Emissões CO2: 111 g/km

Preços


Preço da versão ensaiada (Euros): 48887€

Preço da versão base (Euros): 43000€