Ensaio: JAGUAR XE S

By on 29 Julho, 2016

Cansado de luxo e performance à alemã? A Jaguar entrou completamente na era moderna mas consegue manter o espírito do automóvel britânico vivo com as suas ofertas mais recentes, incluindo a versão mais desportiva do XE, denominada S, que se destaca pelos 340 cv de potência

Ninguém faz automóveis com mais estilo que os britânicos. Bem, talvez os italianos. Mas num mercado onde as marcas alemãs são sempre as primeiras a chamar a atenção do público, talvez no início por perceção de superioridade tecnológica mas no final sucumbindo à atração gravitacional da sua popularidade, marcas de outros países têm dificuldade em combater de igual para igual na arena premium. Entre elas está a britânica Jaguar, a única marca nativa do Reino Unido que procura atrair um público mais tradicional.

A Jaguar tinha regressado aos executivos compactos com o XE, uma proposta com uma identidade mais forte que o anterior X-Type, que mal passava de um Ford Mondeo ‘recauchutado’. Desde então, a Jaguar saiu do universo da Ford e recuperou alguma da sua identidade própria. E as economias de escala da indústria automóvel permitem-lhe usufruir da tecnologia mais exclusiva oferecida nos ‘irmãos maiores’, em vez de se basear num modelo generalista.

Neste caso, o XE é uma versão mais curta do XF e XJ, mantendo o mesmo ar de família, mas numa forma mais compacta. A ideia é combater os tradicionais BMW Série 3, Mercedes Classe C e Audi A4, mas de uma forma diferente. É que os alemães, embora luxuosos, não escapam à filosofia germânica de utilitarismo e funcionalidade. E os britânicos sempre primaram por colocar igual importância nos detalhes decorativos e na forma como o público usa o carro. Considerando que o império britânico sempre se posicionou como ‘defensor da civilização’, durante o Século XIX, é uma filosofia que faz sentido para o XE.

Declaração de guerra

Uma variante com mais performance foi algo que fez falta ao X-Type, mas agora a gama XE tem um ponta-de-lança na versão denominada simplesmente S. Enquanto as versões mais civilizadas dão os habituais motores a habitual escolha de motores Diesel, o XE S está disponível em exclusivo com um motor a gasolina para um público que procura performance pelos meios tradicionais.

Neste caso, estamos a falar de um propulsor de seis cilindros (ainda que seja um V6 em vez do tradicional ‘seis-em-linha’), auxiliado por um compressor mecânico em vez de um turbo, o que não o impede de atingir os 340 cv de potência máxima. Embora não seja uma solução teoricamente tão eficiente, no mundo real o motor acaba por ter uma resposta interessante em qualquer regime, mesmo nos mais elevados. Comporta-se de um modo civilizado em trânsito normal, mas obedece com rapidez às ordens do condutor, não mostrando qualquer receio de espalhar os seus ‘cavalos’ pela estrada. Acaba até por ser mais interessante que os seus rivais alemães, pois estes continuam a insistir em programar a eletrónica para funcionar de modo a ‘abafar’ a força do pedal no acelerador em modo ‘eco’. No Jaguar não há nada disso, e podemos sentir toda a força do V6. Dá para matar saudades de uma era menos politicamente correta. Mesmo sem, uma caixa manual, a transmissão automática de oito velocidades, fornecida pela ZF a quase todas as marcas premium, também é bastante rápida, uma sensação reforçada pelas patilhas atrás do volante.

Um motor destes merece um bom chassis e a Jaguar não desilude. Tal como acontece com o maior XF, a marca recorre a uma estrutura de base leve, com as rodas colocadas o mais perto possível dos cantos da carroçaria, e isso é uma ajuda preciosa para conseguir um comportamento bastante ágil nas curvas. A combinação de triângulos duplos na dianteira e de link integral (um design complicado mas eficiente para eliminar o adornar da carroçaria) na traseira é a ideal para a identidade britânica do XE, podendo oscilar entre comportamento desportivo e conforto irrepreensível, algo necessária nas estreitas e sinuosas estradas de campo da Grã-Bretanha. Tal como muitos carros modernos, o XE beneficia de uma direção eletro-mecânica, bem mais leve que a antiga assistência hidráulica, mas que por vezes é demasiado civilizada quando se conduz no limite.

Brit-art

Se o XE S se comporta como um automóvel desportivo, esteticamente é um automóvel bastante sóbrio, com poucas alusões à sua superioridade, como um logo ‘S’ na grelha do radiador. Essa sobriedade também passa para o interior, com um tabliê amplo, incorporando um touchscreen de oito polegadas, e uma consola central envolvente, que poderia ser claustrofóbica mas na verdade amplia a sensação de segurança e conforto, com uma boa ergonomia dos comandos.

No banco traseiro, a Jaguar segue a moda das outras marcas premium de tornar o lugar do meio pouco confortável para privilegiar os dois outros ocupantes, o que não faz muito sentido dada a largura do carro. Mas o XE S sempre é um carro para um condutor mais individualista que as outras versões da gama. Já a bagageira tem um volume suficientemente generoso, superior a 450 litros, e com um acesso surpreendentemente fácil, dado o desenho do vidro traseiro e o espaço que a suspensão traseira ocupa. É funcionalidade suficiente para justificar o preço superior a 75 mil euros que se pede por um carro de estilo britânico e performances desportivas.

Paulo Manuel Costa

Preço – 76 068 €

Ficha Técnica: Motor V6, 24 v., inj. direta e compressor, 2995 cm3 Potência 340 cv/6500 rpm Binário 450 Nm/4500 rpm Transmissão Traseira, cx. auto. 8 vel. Suspensão Triângulos duplos à frente e multilink atrás Travagem DV/DV Peso 1665 kg Mala 455 litros Depósito 63 litros Velocidade máxima 250 km/h Aceleração 0 a 100 km/h 5,1 segundos Consumo médio 8,1 l/100 km Consumo médio AutoSport 11,3 l/100 km Emissões CO2 194 g/km