Renault ZOE R90 – Ensaio

By on 12 Junho, 2017

Renault Zoe R90 ZE40 

Texto: José Luís Abreu ([email protected])

Mudança de paradigma

Pela primeira vez conseguimos aliar um carro elétrico  com uma autonomia ‘decente’ a um preço competitivo.  O novo Renault Zoe R90 ZE40 consegue cerca de 300 km com ‘uma’ bateria em condições reais de utilização.  E o preço já não assusta…

Uma coisa que os portugueses poucas vezes fazem é contas! Para tudo e mais alguma coisa. Lembro-me, aqui há uns bons anos, quando os primeiros postos de combustível low cost começaram a surgir, de um vizinho que ia de Sintra ao Jumbo de Alfragide abastecer o carro, porque “era muito mais barato.” “Mas vais lá fazer as compras ao Jumbo?” perguntei. “Não”, respondeu, “vou só meter gasolina. – Porreiro, fazes 40 km para poupar quatro euros no abastecimento, e nesses 40 km gastas 4,00€ de gasolina. Basicamente, vais passear, pois poupar não poupas um cêntimo…” Os anos passaram, a crise mantém-se, todos deviam fazer contas e depois olhar para os pratos da balança e pesar os prós e os contras.

A cada dia que passa faz cada vez mais faz sentido ponderar-se um elétrico e há casos em que se as pessoas tiverem uma vida com poucas “variações ao tema”, leia-se, fazem em 90% das vezes os mesmos percursos todos os dias. Sendo capaz de concordar que o anterior Zoe era complicado, porque nos arriscávamos a ter pouco mais do que 130 ‘verdadeiros’ kms, já com esta nova geração, o Renault Zoe R90 ZE40, se adaptarmos a condução, conseguimos fazer 300 km, e se fizermos uma condução o mais parecida possível com a que fazemos no dia a dia, 250 Km são totalmente garantidos, incluindo aqui rodar num itinerário complementar à velocidade máxima autorizada.

Decidi, com a bateria quase totalmente carregada, 96%, tentar perceber quanto poderia durar até sentir a pressão do carregamento, tendo em conta o percurso de 60 km que faço em média diariamente, que inclui muito pára-arranca e percursos lentos. Ora bem, logo para começar os primeiros 22 km tiveram o condão de permitir que saísse de casa e chegasse ao primeiro destino, a escola da criança, exatamente com a mesma autonomia que… quando saí de casa. Isto explica-se pelo muito trânsito e um percurso ligeiramente a descer. Claro que ao fim do dia o ‘consumo’ de bateria foi diferente, mas ainda assim com estes percursos semelhantes consegui fazer quase a semana toda sem ter que carregar a bateria uma única vez. Isto significa que numa utilização real, nem sequer será necessário carregar-se o carro todos os dias.

Mas há aspetos práticos de que convém ter-se consciência. Esta nova bateria de 41 kWh, se for carregada num posto ‘rápido’, os melhores de todos, demora entre 65 a 100 minutos, e na pior das hipóteses, com uma tomada doméstica com a potência mais fraca, 2,3 kW, pode durar até mais de 30 horas – e dificilmente poderia ter mais alguma coisa ligada à mesma tomada. Com o carregador de 7,4 kW precisa-se de sete a oito horas para se carregar o Zoe. Depois há aqui várias coisas que se têm de ponderar. Usar a instalação elétrica do domicílio evita ter de se pagar mais um contrato, mas terá de ter em atenção que, enquanto o carro carrega terá menos potência disponível em casa. Ou seja, o carro elétrico permite-lhe poupar ‘rios’ de dinheiro, mas convém ler muito sobre os prós e contras, pois não temos aqui espaço para os referir a todos.

Facto: Com um preço base de 29.450 euros (ver campanhas), o Renault Zoe R90 ZE40 demarca-se dos elétricos demasiado caros e com longos anos de ‘amortização’. Com este Zoe, se não pretender andar a dar ‘gás’, pode contar com 300 km de autonomia real. Quantas vezes num ano faz mais de 300 km por dia? Com este carro temos a liberdade que o automóvel nos dá de ir para onde e quando quisermos. De resto, a condução do Zoe em cidade é uma maravilha, pois o carro é ágil e sobra-lhe em rapidez para o ambiente urbano.

Se tiver que fazer um número significativo de quilómetros num IC ou AE nos seus percursos normais, se andar nos limites, a bateria vai-se bem mais depressa. Não é aí o ambiente ideal do Zoe, ainda que ande, pois a velocidade máxima de 135 km/h atinge-se facilmente. O carro é suficientemente rápido, mas se optar constantemente por um ritmo elevado terá uma surpresa desagradável com a bateria. Estes carros não foram pensados para andarmos sempre a ‘abrir’. Aliás, ‘obrigam-nos’ a moderar o andamento, pois o enorme painel do Zoe está sempre a mostrar se a nossa condução é ‘verdinha’, moderadamente poupada (poucos ‘riscos’ amarelos) ou o azul ‘regenerador’ que queremos ver sempre que tiramos o pé do acelerador ou travamos.

O facto de ter um baixo centro de gravidade permite a este Zoe ser ágil em estradas sinuosas. Tem força para dar e vender e só não podemos contar com ele para ‘velocidades furiosas’. Outro aspeto interessante é que o Zoe mostra-nos sempre, tendo em conta o nosso ritmo, com o que podemos contar na bateria. Definitivamente, este carro faz-nos esquecer a ansiedade da carga da bateria e isso é um trunfo importantíssimo. Isso e uma média de um euro por cada 100 km. Espantado? Não fique…!

MAIS – Autonomia e condução citadina.

MENOS – Conforto e espaço atrás.

FICHA TÉCNICA

Motor – Tipo elétrico, síncrono

Transmissão – Dianteira

Cx Vel – Automática

Potência – 92 cv

Binário – Máximo de 225 Nm

Vel máx – 135 km/h

Aceleração – 13,2 s (0-100 km/h)

Consumo – Autonomia de 400 km, AutoSport 300 km

Suspensão dianteira – Pseudo McPherson

Suspensão traseira – Eixo de torção

Travões dianteiros – Discos ventilados

Travões traseiros – Tambores

Peso – 1480 kg

Mala – 338-1225 l

Emissões – 0 g/km CO2