Hyundai i30 1.4 T-GDi Launch Edition – Ensaio

By on 24 Julho, 2017

Texto: Francisco Cruz

Hyundai i30 1.4 T-GDi Launch Edition: Talvez numa outra realidade…

São novos e fortes os ventos que sopram de Oriente! A demonstrá-lo, a evolução protagonizada pela Hyundai com o seu novo familiar compacto i30, modelo que não esconde a aproximação à concorrência europeia. Ainda que, na motorização por nós ensaiada, 1.4 T-GDi de 140 cv, certamente pensada para uma outra realidade que não a portuguesa…

Modelo que claramente marca o regresso da Hyundai aos palcos do importante segmento C, depois um longo (demasiado?) período de apagamento, o i30 é também e em nossa opinião, o modelo que projecta a principal marca do gigante industrial sul-coreano para o mesmo patamar da irmã Kia. Plano em que, fruto da evolução qualitativa, tecnológica e até mesmo estilística, a Hyundai volta não apenas a poder competir com as principais propostas – europeias, inclusive! – daquele que é um dos segmentos de maior volume no Velho Continente, como também e de certa forma, fazer jus o nome que enverga – e que em português significa “Hoje”.

Concebido para concorrer com verdadeiros best-sellers do mercado automóvel europeu, como é o caso do líder incontestado em 2016 Volkswagen Golf, ou de propostas como o Opel Astra (2.º) ou o Skoda Octavia (3.º), o novo i30 procura assim afirmar-se e desde logo como uma proposta totalmente nova, que poucas ou nenhuma ligações mantém ao antecessor. A não ser, refira-se, a plataforma, que continua sendo a mesma, ainda que evoluída em aspectos como a rigidez estrutural (+22%) e o peso – neste caso, visando um emagrecimento que pode mesmo chegar aos 28 kg. Forma também de melhorar a agilidade, mas, quanto a isso, já lá iremos…

Aspecto exterior cativante, interior um pouco menos

Mas se aspectos como plataforma pouco ou nada dirão ao comum dos condutores no momento da decisão, já a estética, a começar pela exterior, tem peso…. e muito! Razão pela qual os designers da Hyundai não deixaram de dar particular atenção às novas linhas do hatchback, claramente bastante mais atraentes que no antecessor, graças desde logo a uma frente da qual se destaca uma nova e maior grelha frontal com efeito tipo cascata, ópticas de design mais agressivo e com tecnologia LED (tal como, aliás, as traseiras) e luzes de circulação diurnas posicionadas na diagonal e também em LED, além de integrando os piscas. Sendo que, lateralmente, são as cavas das rodas bem marcadas e a emoldurarem jantes de 17 polegadas, a par de um vinco a interligá-las, que mais se fazem notar. Ao passo que, na traseira, esteticamente “arrebitada” e com um óculo também subido, do qual faz parte um airelon com terceira luz de stop integrada, farolins de dimensão generosa e atraente, assim como reflectores bem subidos, ajudam a completar o conjunto.

Já no interior, bem menos audácia nas linhas e soluções estilísticas, com comandos como os do ar condicionado a chegarem mesmo a transmitir alguma “idade” (não teria sido possível pensar em algo mais moderno?…), atenuada, ainda assim, não só pelo amplo acesso, como também pela boa solidez transmitida no fechar das portas, assim como pelos revestimentos escolhidos para grande parte das superfícies. O que, acrescente-se, não quer dizer que os plásticos rijos tenham simplesmente desaparecido; só que as boas escolhas em termos de revestimentos para grande parte do tablier e portas, a par de uma boa legibilidade de todos os mostradores e fácil acesso à generalidade dos comandos, acabam ajudando à boa impressão global!

Habitabilidade e bagageira são trunfos

Aliás e apesar da habitabilidade pouco ter evoluído face à geração anterior (nem precisava!), continuando adequada para cinco adultos a que não faltará espaço mesmo nos lugares traseiros, destaque-se igualmente os muitos espaços de arrumação, assim como a posição de condução, correcta na forma como garante a integração do condutor no cockpit, graças também a um volante de óptima pega e assento de bom apoio lateral, ambos reguláveis tanto em altura como em profundidade. Sendo que, no caso do banco, embora assegurando um bom acesso à generalidade dos comandos, pega da caixa de velocidades incluída, já não consegue o mesmo no que à visibilidade traseira diz respeito. Levando-nos, como tal, a agradecer a inclusão – na super-equipada versão Launch Edition, pelo menos – da câmara de estacionamento traseira com linhas de guia dinâmicas e projecção de imagem no generoso ecrã táctil de 8 polegadas.

Contudo e ainda antes de falarmos do equipamento, uma palavra para a óptima capacidade da bagageira, a rondar dos 400 litros (395 l, mais concretamente), valor de bom nível para o segmento, além de passível de ser aumentado até aos 1.301 litros, mediante o rebatimento (60:40) ligeiramente na perpendicular das costas dos bancos traseiros. Embora sem qualquer divisão ou separação relativamente ao piso amovível.

E se, no momento de rebater os bancos, não deixámos de sentir a falta de trancas nas laterais da mala, também acabámos valorizando outros aspectos particularmente funcionais, a começar no enorme alçapão por baixo do piso falso (sendo que, por baixo deste, está ainda o pneu sobressalente de emergência) e a que se juntam outros dois, mais pequenos, junto ao arco das rodas, ganchos porta-sacos nas laterais e tomada de 12V. Sem esquecer o bom acesso ao espaço, resultado também de uma chapeleira rija que sobe com o portão.

Equipamento: sem falhas e muito cativante!

Disponível, em Portugal, com três níveis diferentes de equipamento – Comfort, a versão de entrada; Comfort +, que acresce à anterior o sistema de navegação; e Style, a versão mais equipada -, o i30 que acabou por nos calhar em sorte para este ensaio era, no entanto, uma das unidades de edição limitada construídas especificamente para assinalar o lançamento do modelo no mercado nacional, e a que o importador deu o nome de “Launch Edition”. E que, apesar de pouco mais cara que a versão Style (26.900€, contra 25.800€), é claramente um bom negócio para os clientes, pelo facto de contar, de série, com praticamente tudo o que ajuda a tornar este modelo sul-coreano um sério concorrente face aos produtos europeus.

É o caso, por exemplo, da já referida iluminação exterior em LED, jantes em liga leve de 17″, vidros traseiros escurecidos, chave retráctil com comando à distância e iluminação da fechadura, bancos traseiros em tecido e pele, regulação eléctrica do apoio lombar, ecrã touchscreen de 8″ a cores com sistema de navegação, RDS e leitor de cartões SD (só lhe falta mesmo um botão de acesso directo ao sistema de telefone…), entradas USB e AUX, Bluetooth com comandos no volante e reconhecimento de voz, carregador wireless de telemóvel, ar condicionado automático, sistema de som com 6 altifalantes e espelho retrovisor interior electrocromático. Tudo isto, sem esquecer, no domínio da segurança e entre outros argumentos, o ABS e Controlo de Estabilidade, Ajuda ao Arranque em Subida, alarme e imobilizador, sensor de luz, Sinalizador de perda de pressão nos pneus com indicação do pneumático afectado, Alerta de fadiga do condutor, Controlo automático dos máximos, Sistema de manutenção na faixa de rodagem e Travagem autónoma de emergência com Sistema de alerta de colisão dianteira.

Motorizações, muitas; 1.4 T-GDI, para poucos

E se, no domínio do equipamento, o novo i30 é proposta para satisfazer mesmo o mais exigentes, nas motorizações, não se pode dizer que o caso mude de figura, com o hatchback sul-coreano a exibir uma oferta capaz de agradar não só à maioria dos potenciais clientes, graças à disponibilização de várias derivações de um diesel claramente competitivo – 1.6 CRDim nas variantes de 95, 110 e 136 cv, com caixa manual ou automática – e de um hoje em dia muito popular tricilíndrico a gasolina – 1.0 T-GDi de 120 cv -, como também àqueles (muito) mais raros condutores que procuram um motor com mais alma e fôlego – como é o caso do 1.4 T-GDi a gasolina com uma potência anunciada de 140 cv às 6.000 rpm e um binário máximo de 242 Nm às 1.500 rpm, que, desta feita, nos calhou em sorte.

Quatro cilindros em linha de 16V com injecção directa e turbocompressor de geometria variável, para o qual a marca anuncia uma capacidade de aceleração dos 0 aos 100 km/h em 9,1 segundos e uma velocidade máxima de 208 km/h, a verdade é que este 1.4 T-GDI acaba assumindo-se como uma solução, sim, mas para uma realidade diferente da portuguesa – não só por se tratar de um “excêntrico” gasolina, num mercado ainda a diesel, mas principalmente porque, para efectivamente disfrutarmos das vantagens deste bloco, é preciso estarmos disposto a aceitar consumos que dificilmente descem abaixo dos 8,5 litros! E isto, contando já com o contributo de uma caixa manual de seis velocidades que, agradável no accionamento, prima também por relações mais longas, já a pensar numa ajudazinha aos consumos!

Ainda assim e caso o leitor esteja efectivamente nessa disposição, saiba também  que este é um 1,4 litros que gosta de ser explorado; que respira melhor a partir das 3.500 rotações, sensivelmente; mas que também não deixa de convencer pela forma como, ainda antes das 2.000 rpm, evolui linearmente e sem ruídos desnecessários, mesmo se pedindo, por vezes e em algumas recuperações, a ajuda da caixa de velocidades. Aqui, de forma a que o ânimo se faça sentir de modo mais notório.

A importância da família

Mas se, aproveitado no seu maior fôlego e progressividade, o 1.4 T-GDI permite e até convida a algumas acelerações mais a fundo, a verdade é que, depois, no desempenho dinâmico, o i30 raramente nos deixar esquecer a sua personalidade mais familiar, preferindo afirmar-se – e agradando! -, acima de tudo, pela vocação que exibe para uma utilização no dia-a-dia e, já agora, em família.

Assim e mesmo nunca perdendo a compostura, ou até mesmo a sensação de segurança garantida permanentemente pelo completo conjunto de ajudas à condução que fazem parte desta nova geração, atitudes mais bruscas e agressivas ao volante, principalmente em trajectos mais sinuosos, pouco mais recebem que oscilações mais acentuadas da carroçaria, com a própria direcção, ainda que agradável na utilização e com uma apetência clara para vivências citadinas, a deixar também escapar a falta de um pouco mais de feedback e, já agora, até peso.

Assim e apesar de oferecendo um bom nível de agilidade, fruto também da já citada maior rigidez da estrutura e redução no peso (só o motor, por exemplo, perdeu 14 kg face ao anterior 1.4 da família Gamma!), o melhor mesmo será aproveitar a facilidade com que o hatchback sul-coreano se entrega à condução, acrescida da descontração proporcionada pela presença de mais-valias como a travagem autónoma de emergência, assim como de algum tacto transmitido por um pisar que, embora acima de tudo confortável, não deixa de ser igualmente um pouco informativo. Além de competente, nomeadamente, na forma como enfrenta os pisos mais degradados.

Uma óptima opção… com outro motor

Com preços competitivos, uma estética agora bem mais atraente e praticamente todas as qualidades necessárias para agradar à grande maioria das famílias portuguesas, desde a habitabilidade ao equipamento (especialmente, nesta versão Launch Edition!), o novo Hyundai i30 tem tudo para vir a protagonizar um óptimo desempenho comercial, não só no Velho Continente, mas também em Portugal. Queiram os condutores nacionais descobri-lo… já agora e de preferência, com um outro motor, mais à imagem daquela que é a realidade nacional.

FICHA TÉCNICA

Motor:

 Tipo: Kappa, com quatro cilindros em linha, injecção directa e turbocompressor de geometria variável

Cilindrada (cm3): 1.353

Diâmetro x curso (mm): 71×84

Taxa compressão: 10:1

Potência máxima (cv/rpm): 140/6.000

Binário máximo (Nm/rpm): 242/1.500

Transmissão e direcção: Dianteira, com caixa manual de seis velocidades; direção de pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica

Suspensão (fr/tr): Tipo McPherson; Multi-Link

Travões (fr/tr): Discos ventilados/Discos sólidos

Prestações e consumos:

Aceleração: 0-100 km/h (s): 9,1

Velocidade máxima (km/h): 208

Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km): 4,8/6,6/5,4; emissões de CO2 (g/km) – 124;

Dimensões e pesos:

 Comprimento/Largura/Altura (mm): 4,340/1,795/1,455

Distância entre eixos (mm): 2,650

Largura das vias (fr/tr) (mm): 1.553/1.567

Peso (kg): 1.820

Capacidade da bagageira (l): 395/1.301

Depósito de combustível (l): 50

Pneus (fr/tr): 225/45 R17/225/45 R17

Preços


Preço da versão ensaiada (Euros): 26900€

Preço da versão base (Euros): €