Mercedes-AMG C43 Coupé – Ensaio

By on 13 Setembro, 2017

Mercedes-AMG C43 Coupé

 Texto:  Filipe Pinto Mesquita ([email protected])

Qualquer modelo da linhagem pura AMG impõe respeito e o C43 Coupé não é exceção, mesmo se está na base da pirâmide da conceituada divisão desportiva da Mercedes-Benz. Se 367 Cv, menos de 4.7s dos 0-100 km/h e uma estética arrebatadora não chegam para impressionar, então é melhor ler outro artigo…

 Há pequenos golpes de sorte e pequenos golpes de azar! Golpe de sorte é dizerem-lhe que tem quatro dias para desfrutar, abusar e (quase) o que mais quiser com o Mercedes-AMG C43 Coupé. Golpe de azar é logo no primeiro dia… partir um dedo do pé e ter que deixar o carro praticamente imobilizado na garagem durante dois dias! Mas, sejamos razoáveis, ter um carro destes parado metade do tempo que o tem para utilizar não é crime pois permite-nos também apreciar o exterior e o interior com um detalhe que dificilmente conseguiríamos com a pulsação “aos berros” dentro do corpo, cada vez que a agulha do conta-rotações começasse a subir vertiginosamente ou as árvores começassem a “andar”, ao nosso lado, realmente depressa!

 Exterior

“Este é mesmo AMG!”. Eis uma frase que irá ouvir muitas vezes e que lhe massajará o ego, se for um dos felizes contemplados com um exemplar desta espécie. Não há que enganar. Exteriormente o C43 Coupé apresenta vias mais largas que os C Coupé convencionais e outros elementos distintivos mesmo face aos equipados com o Pack exterior AMG. O discreto spoiler traseiro AMG, o fantástico sistema de escape desportivo, as distintas jantes de liga leve multiraios de AMG 19’’ e as pinças de travões em cinzento com lettering “AMG” são a prova de que os responsáveis de Affalterbach (de onde saem todos os AMG) estavam inspirados no dia em que imaginaram o seu traço agressivo. Depois a inscrição lateral “biturbo 4MATIC” e as siglas “AMG” e “C43” nas extremidades da bagageira (e também uma pequena inscrição “AMG” na grelha dianteira) acabam com qualquer dúvida quanto à idoneidade deste AMG e põe em sentido qualquer aventureiro que se julgue tratar apenas de mais uma fiel imitação AMG.

Interior

Mas não é apenas na epiderme e pelos poros da pele que o C43 respira AMG. Também a derme está recheada de apontamentos de ADN da divisão desportiva da Mercedes-Benz.

Acabamentos interiores em carbono/alumínio combinam na perfeição com os estofos em pele ARTICO/DINAMICA e com o forro de tecido preto no tejadilho, deixando a primeira perceção de que estamos dentro de um carro desportivo. Pormenores como os cintos de segurança vermelhos, os tapetes AMG, os pedais em aço inoxidável com aplicações de borracha, o tablier em pele ARTICO e o painel de instrumentos AMG (onde no computador de bordo se incluem manómetro de pressão do turbo, de pressão de óleo e de temperatura da água, cronómetro e giroscópio de forças G) abrem-nos, definitivamente, as portas do mundo AMG, num misto de requintado ambiente e superior qualidade de construção. Mas é com a maior parte dos comandos inseridos na consola central que o destemido Coupé da Mercedes ganha personalidade, seja pela ativação do Dynamic Select (com cinco posições: “Eco”, “Comfort”, “Sport”, “Sport+” e “Individual), pela alteração do modo da caixa de velocidades automática 9G-Tronic para manual, pelo acerto de suspensão, desativação do ESP ou pelo engrossamento da “voz” através da alteração do som dos soberbos escapes desportivos AMG.

Ainda sem ligar o motor, fica também registada uma excelente posição de condução (ainda que a falta de acerto elétrico do banco em comprimento seja pouco desculpável), o mesmo não se podendo dizer da habitabilidade penosa dos dois lugares traseiros já que a configuração dos bancos, muito inertes (mas normal nos coupés) nada se ensaia para lhe oferecer uma boa dor de costas.

 Ao Volante

Após dois dias da mais pura contemplação, eis que chegou a hora da verdade (mesmo se a dor no dedo do pé ainda se faz sentir)! Um simples toque no botão “start/stop” oferece-nos o primeiro sorriso do dia com a melodia do V6 de 3 litros a transformar-se em música para os ouvidos! Os primeiros quilómetros são para aquecer o “material” e fluídos e permitem perceber que o Coupé também pode ser perfeitamente discreto e civilizado, sobretudo, quando selecionado os modos “Eco” e “Comfort” do Dynamic Select. Mesmo assim, é bom que não espere muito conforto (essa também não é a principal preocupação para quem compra um carro destes) pois mesmo em ritmo de passeio, a suspensão não é nenhum “mimo”, especialmente, no mau piso.

Nada que… não piore quando a personalidade “Sport” e, sobretudo “Sport+”, são ativadas, com as quais qualquer saliência na estrada parece passar a ser absorvida pelas nossas costas! É mesmo assim e nem é criticável! Muito do bom desempenho dinâmico deste Classe C Coupé tão especial é fruto dessa austeridade das molas e inflexibilidade dos amortecedores, que pouco deixam a carroçaria adornar, mesmo em situações limite de transferência de peso.

Ainda assim, para ritmos vivos a posição “Sport” pode ser mais adequada que a “Sport+”, que se sente como “peixe na água” num circuito sem flutuações de asfalto. Com diferencial autoblocante e tração permanente às quatro rodas, as perdas de tração são minimizadas e logo que haja coragem para “desconectar” o ESP também se percebe que, em esforço excessivo, a primeira tendência do chassis é subviradora, antes da maior potência transitar para o eixo traseiro de forma relativamente suave e fazer a traseira ganhar vida. Com 367 cv e 520 Nm (a serem disparados entre as 2000 e as 4200 rotações) há sempre espaço para ultrapassagens mais arriscadas, sendo certo que também é fácil perceber que o habitat natural deste desportivo são as curvas largas e de alta velocidade pois no registo de curva e contra-curva, o ESP castra o motor demasiado cedo, obrigando a meter “uma acima” para voltar a soltar o motor.

Algo muito fácil e rápido de fazer com as patilhas no volante da caixa 9G-Tronic, que só poderiam ser mais eficazes se tivessem maiores dimensões (o que facilitaria a sua utilização em certos ângulos do volante). Por outro lado, o facto da transmissão automática meter uma velocidade acima antes de chegar ao “red line” também deveria ser revisto por questões de segurança. Não é agradável chegar a uma curva quase a esgotar a 3ª velocidade e, precisamente, na altura em que vai travar para a inserção, a caixa mete… “4ª”! Claro que é tudo uma questão de conhecer as “manhas” deste domesticável “animal selvagem”, que, de uma forma geral, se mostra muito neutro no comportamento e apresenta uma capacidade de travagem sempre condizente com as performances.

Por último, destaque para as propriedades medicinais do conjunto! É que devido à adrenalina que liberta em regimes de rotação elevados, quaisquer que sejam as dores num dedo do pé direito partido, simplesmente nem se notam! Pode haver médicos mais baratos que um Mercedes C43 AMG, mas estamos em condições de garantir que nenhum lhe vai proporcionar um sorriso tão grande quando lhe entrar pelo consultório com um dedo partido!

 Sistemas de Assistência à Condução e Segurança

A suspensão desportiva AMG RIDE CONTROL e o bloqueio do diferencial traseiro mecânico podem parecer desajustadas quando o tema é “sistemas de assistência à condução e segurança”. Mas a verdade é que são dois itens fundamentais para elevar as capacidades dinâmicas do C43 e lhe dão a confiança necessária para “atacar” a estrada com toda a segurança. Claro que contar com um cruise control com SPEEDTRONIC e função HOLD, faróis LED, assistência à faixa de rodagem, entre múltiplos outros sistemas, ajuda também a fazer uma condução mais despreocupada, mesmo se muitos dos assistentes auxiliares à condução segura façam parte da lista de equipamento opcional.

 Consumos

Ninguém está à espera que um bloco de 3 litros V6 tenha propriamente falta de “apetite”. E desengane-se se acha que o preparado pela AMG é a exceção que confirma a regra! Ter o pé pesado significa sempre consumos acima dos 20 litros/100 km, valores que poderão ser até ainda menos simpáticos num pico “adrenalina” onde se espreme todas as rotações deste desportivo. Mas, usando moderação e com algum cuidado, também é possível deixar averbados no computador de bordo valores de 10 litros/100 km, números muito aceitáveis… para ir passear!

 Motorizações disponíveis

As versões desportivas do Classe C Coupé tem sempre o selo de “garantia desportiva” da AMG. Com o C43 a situar-se na base da pirâmide, é ainda possível aceder às versões verdadeiramente elitistas do modelo. Estamos a falar do C63 e do C63 S, cujo patamar de performance sobe substancialmente, com o primeiro a disponibilizar 476 Cv e o segundo 510 Cv (sendo ambos já equipados com motor V8 biturbo), sendo, naturalmente, acompanhado por um também considerável acréscimo ao valor final do cheque, que no C63 se fica pelos 107.200 € e no C63 S pelos 123.150 €.

 Equipamento opcional

Como quase sempre acontece nas marcas premium, a lista de opcionais é grande e, muitos vezes engloba equipamento que deveria ser concedido de série, atendendo ao preço base do automóvel. Entre a lista de opcionais mais importantes destaque para o COMAND Online (inclui Assistente de Limite de Velocidade, Live Traffic Information, leitor DVD e LINGUATRONIC) (250 €), pintura em branco cashmere magno (2.500 €), sistema KEYLESS-GO (800 €) e KEYLESS-GO Starting (150 €), fecho automático da bagageira (50 €), tampa da bagageira com abertura/fecho automático (400 €), sistema líquido do limpa para-brisas (250 €), bancos dianteiros aquecidos (400 €), vidros laterais traseiros e óculo traseiro escurecidos (450 €), extintor (150 €), sistema de luzes inteligente LED (inclui luzes LED adaptativas com ajuste automático consoante as condições de condução e luzes de condução diurna LED) (450 €), Assistente de máximos PLUS (150 €), Head-Up Display (1250 €), Touchpad (150 €), teto de abrir panorâmico em vidro (1800 €), bancos dianteiros climatizados (aquecimento e ventilação) (1350 €), sistema PRE-SAFE (450 €), Air bags laterais traseiros (450 €), relógio analógico (60 €), Assistente de distância ativo DISTRONIC (1200 €), Assistente de estacionamento ativo (900 €), Assistente de ângulo morto (600 €), Câmara de marcha-atrás (500 €) ou câmara 360 graus (400 €), direção Direct-Steer Conforto (250 €), sintonizador digital de TV (1250 €), kit de cabos Media Interface (100 €), módulo Bluetooth para telemóveis (550 €), sistema de navegação Garmin MAP PILOT (600 €), bancos AMG Performance (2400 €), AMG Track Pace (200 €), Pack AMG Carbono Exterior 2 (inclui retrovisores e spoiler em fibra de carbono) (2200 €).

Mas também a maior parte das marcas já percebeu que é mais rentável fazer Packs de equipamento e a Mercedes optou também por esse sistema que facilita a escolha. No caso do C43 Coupé, os mais importantes são o Pack de Assistente à Condução PLUS (2600 €), Pack Espelhos de Arrumação (inclui rede na bagageira e duplo porta-copos na consola central, colete refletor, bolsas na traseira dos bancos frontais e rede na zona dos pés do banco do passageiro) (100 €), Pack KEYLESS-GO (inclui Hands Free Acess, Keyless-Go, Tampa da bagageira com abertura e fecho automático (1050 €), Pack Parking (entre 400 e 1300 €), Pack Espelhos (inclui retrovisores exteriores com função anti-encadeamento, rebatíveis eletronicamente e iluminação ambiente) (550 €), Pack Alarme (500 €), Pack Bancos Conforto (inclui bancos com ajuste lombar 4 vias, bancos AMG Performance e banco do passageiro com ajuste elétrico e memória) (250 €), Pack Iluminação interior (200 €) e Pack Luz ambiente (inclui luzes adicionais e 3 tons à escolha, e embaladeiras iluminadas) (300 €).

Concorrentes

  • Audi TT RS Coupé (2.5 litros, 400 Cv, 8,2 l/100 km, 187 g/km, 250 km/h, 3,7s 0-100 km/h, 88.199 €)
  • BMW 440i Coupé (3.0 litros, 326 Cv, 6,6l/100 km, 172 g/km, 250 km/h, 5,0s 0-100 km/h, 67.400 €)
  • Ford Mustang 2.3 Ecoboost (2.3 litros, 317 Cv, 8,0 l/100 km, 179 g/km, 234 km/h, 5,8s 0-100 km/h, 49,076 €)
  • Jaguar F-Type S (3.0 litros, 340 Cv, 9,8 l/100 km, 234g/km, 260 km/h, 5,7s 0-100 km/h, 95.391 €)
  • Nissan 370 Z Nismo (3.7 litros, 344 Cv, 10,6 l/100 km), 248 g/km, 250 km/h, 5,2s 0-100 km, 69.690 €)
  • Porsche Cayman S PDK (3.4 litros, 325 Cv, 8,2 l/100 km, 190 g/km, 281 km/h, 4.9s 0-100 km, 89.443 €)

 A concorrência do Mercedes-AMG C43 não é propriamente de subvalorizar, embora alguns modelos tenham um carácter ainda mais desportivo que a estrela da Mercedes, mas menos polivalente, tendo dificuldade para honrar compromissos familiares para os quais não foram pensados (caso do Porsche Cayman S PDK e mesmo do Jaguar F-Type S). Isso não é um problema para C43 resolve sem problemas.

 Balanço Final

O Mercedes-AMG C43 Coupé tem muito mais qualidades que defeitos. O elástico e potente motor V6 é capaz de lidar com qualquer desafio, o que aliado, ao bom desempenho do chassis faz deste AMG um dos melhores coupés desportivos do seu segmento. Não é barato? Não. Mas também “não há almoços” de graça!

Mais: Imagem agressiva mas equilibrada; prestações dinâmicas e motricidade; potência e elasticidade do motor.

Menos: Muito equipamento opcional e de custo elevado; lugares traseiros comedidos.

 

FICHA TÉCNICA

Motor

Tipo – V6, injeção direta, turbo, intercooler, 16 válvulas

Cilindrada (cm3) – 2996

Diâmetro x curso (mm) – 88,0 x 82,1

Taxa de compressão – 10,5:1

Potência máxima (cv/rpm) – 367/5500-6000

Binário máximo (Nm/rpm) – 520/2000-4200

Transmissão, direcção, suspensão e travões

Transmissão e direção – Tração integral (4MATIC), caixa automática 9G-Tronic; direção de pinhão e cremalheira elétrica-mecânica

Suspensão (fr/tr) – Independente de multibraços

Travões (fr/tr) – Discos ventilados e perfurados / Discos ventilados

 Prestações e consumos

Aceleração 0-100 km/h (s) – 4,7s

Velocidade máxima (km/h) – 250 km/h (limitada)

Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) – 6,4-6,2/10,8-10,6/8,0-7,8

Emissões de CO2 (g/km) – 183-178

 Dimensões e pesos 

Comp./largura/altura (mm) –  4696/1810/1405

Distância entre eixos (mm) – 2840

Largura de vias (fr/tr) (mm) – 1602/1554

Peso (kg) – 1735

Capacidade da bagageira (l) – 400

Pneus (fr/tr) – 225/45 ZR 18 / 245/40 ZR 18