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Ford T: O pai de todos os carros

By on 8 Julho, 2023

A vida do Ford Model T ficou balizada por duas datas: 1 de Outubro de 1908, o nascimento; 26 de Maio de 1927, o fim da produção. Ao longo desses 19 anos, tornou-se no ícone dos pioneiros da indústria.

Não é demais dizer-se que o Ford Model T mudou o mundo, pelo que representou na indústria automóvel. Para quem ande mais distraído, foi com o “T” que nasceu a filosofia da indústria automóvel com base nas linhas de montagem. Era mais rápido e mais barato – e os números

do Ford Model T, mais de 15 milhões em 19 anos de vida, ficaram na história para o provar. Por isso, Henry Ford foi, mais que um visionário, um revolucionário da indústria automóvel. Por isso ainda, não é exagero dizer-se que o Ford Model T foi o pai de todos os carros – e, também, da indústria automóvel.

Uma questão de preço Os carros eram, nessa altura, meros objetos lentos e barulhentos, que

deixavam os americanos desconfiados. A qualidade não era um dos seus pontos fortes, bem como a fiabilidade. E, claro, ainda por cima eram demasiado caros. O Model T veio mudar isso tudo. Logo pela razão de ser feito em série, com controlo de qualidade, o carro foi, em

cada ano que passava, melhor e mais robusto. O seu preço de venda ao público foi descendo de forma constante: em 1908, ano do seu lançamento, o “T” custava 850 dólares:; em 1927, quando terminou a sua produção, já custava somente 290! O Model T foi precursor de muitas coisas. Por exemplo, foram desenvolvidas versões com motores a gasolina ou a álcool – ou, ainda, uma

mistura de ambos. A sua estrutura era toda em madeira, coberta por chapas de aço. Tinha uma altura ao solo que lhe permitia passar por cima de qualquer obstáculo. Os bancos eram estofados em veludo e não eram reguláveis. O acelerador era uma alavanca junto ao volante e a

caixa de velocidades tinha engrenagens epicicloidais, com duas relações para a frente e uma para trás, selecionadas por pedais. Os travões eram acionados manualmente, às rodas traseiras e o motor tinha 2900cc, 17 cavalos e permitia uma velocidade de 55 km/h.

Um carro feito à medida de cada cliente

Conta-se que, um belo dia, Henry Ford disse que «qualquer um pode ter um Ford T da cor que desejar, desde que seja preto.» Lenda ou verdade, o certo é que, se nem sempre foi assim (embora a maioria dos 15 milhões de unidades tenha saído das linhas de montagem pintados de negro), o Model T foi dos carros mais versáteis da história do automóvel. Qualquer actividade está representada pelo “T” – desde autocarros, da polícia ou escolares, a limpa-neves, a simples

camionetas de transporte de mercadorias ou ambulâncias.

O Ford Model T também passou, com inequívoco sucesso, pelos palcos da Primeira Grande Guerra, onde as suas características de “todo-o-terreno” se juntaram à facilidade de utilização e fiabilidade. Actor principal em tantas histórias, o anedotário do Ford T faz-se através de um percurso de sucesso. O primeiro automóvel a ser produzido em linha de montagem, não era qualquer um que colocava a funcionar o seu motor de 22 cavalos – o coice da manivela de arranque era tão violento que, dizia-se, era capaz de arrancar o braço ao mais

desprevenido condutor!

Vencedor da Transcontinental em 1909

Um Ford Model T nas corridas? Pois foi verdade, por muito incrível que possa parecer. Aliás, o modelo foi de tal forma versátil e camaleónico, em termos de versões, que não tem que resultar

surpreendente uma eventual carreira desportiva. Caracterizado por uma manutenção relativamente simples, tinha ainda outra qualidade – a sua capacidade de ir onde outros carros,

existentes na altura e enquanto a sua vida durou, não conseguiam ir. A primeira vez que um Ford Model T participou numa corrida, foi em 1909. E não foi numa prova qualquer – foi a

Transcontinental Race, que ligou Nova Iorque a Seattle, numa distância de quase 6600 quilómetros e durante a qual os seis corajosos concorrentes inscritos na prova tiveram que enfrentar as mais adversas condições climatéricas, por caminhos que só muito dificilmente podiam, então, ser associados à ideia que hoje temos de uma estrada. Não existiam pontes para

fazer as travessias dos rios e um dos grandes desafios foi o cruzamento do Missouri, feito a vau, bem como os extensos lamaçais onde os carros de afundavam até aos eixos. A Ford inscreveu dois exemplares do Model T Roadster, com equipas constituídas por três homens. Ao fim de 23 dias e 55 minutos, foi um deles quem chegou a Seattle em primeiro lugar. O segundo concorrente chegou apenas 17 horas mais tarde e o terceiro classificado foi o outro Ford. O vencedor cometeu a proeza de realizar a travessia do continente norte-americano a uma média de 7,75 milhas por hora (12,5 km/h), mas foi desclassificado três meses depois, por ter sido mudado o motor. Uma decisão que a Ford jamais aceitou!

Hélio Rodrigues, In Memoriam

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