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O piloto da Porsche responsável pelos recordes no Nordschleife

By on 13 Fevereiro, 2022

A conquista do melhor tempo volta no traçado do Nordschleife é praticamente um dos dados mais importantes para a grande maioria dos construtores, juntamente com a ficha técnica dos seus modelos mais desportivos. Mas para efetuar esse tipo de teste, ainda é preciso que alguém se sente ao volante e conduza o carro. No caso da Porsche, essa tarefa costuma ser entregue a Lars Kern.

O Nordschleife fica mesmo ao lado da aldeia de Nürburg, cerca de 48 km a sul de Bona e é um dos locais do globo onde qualquer apaixonado por automóveis gostaria de conduzir. É uma das pistas mais exigentes do planeta, com 20,8 quilómetros e mais de 150 curvas, que pode ser acedida por quase todos os que o desejem em determinados dias do ano por um valor de 25 euros por cada volta ao Green Hell. Apesar disto, para algumas pessoas, o Nordschleife é apenas mais uma das zonas do “escritório”. Uma dessas pessoas é o piloto Lars Kern.

Lars entrou para a Porsche como engenheiro de testes há cerca de uma década e começou por desempenhar algumas das tarefas menos importantes, já na fase final de desenvolvimento de alguns modelos. Segundo nos conta, “o meu trabalho no início era fazer testes de aceleração dos 0 aos 100 km/h, ou aos 200 km/h, com carros de desenvolvimento para ver se estávamos a atingir os nossos objetivos. E também dinâmicas de condução como slaloms – o tipo de coisas que a imprensa poderia fazer mais tarde. A Porsche precisava de alguém que pudesse conduzir a um nível decente, mas não necessariamente um piloto de corridas. Também tinha de preparar os carros de imprensa, fazendo todo o tipo de testes de qualidade antes de eles saírem. Coisas aleatórias que alguém tem de fazer. Mas foi assim que eu comecei”.

Os testes realizados pelos membros da imprensa especializada eram realizados muitas vezes no Nordschleife, e em determinada altura foi pedido a Kern que fizesse uns testes no circuito para ir verificando se os carros estavam à altura do desafio. “Quando entrei no Nordschleife pela primeira vez, dei por mim a pensar que nunca iria aprender esta pista! Mas, entretanto, tive a oportunidade de fazer tantas voltas que a dada altura acabei por atingir um bom nível e a Porsche tomou reparou nisso. E quase por acidente, começaram a usar-me para os recordes das voltas”.

Em 2010, o tempo por volta ao Nordschleife começou a tornar-se uma referência na indústria e os responsáveis da Porsche pediram a Kern que estabelecesse um tempo com um Panamera da primeira geração. Foi o primeiro modelo de uma lista cada vez maior e que já inclui automóveis como o 911 GT2 RS ou o novo Cayenne Turbo GT.

Tal como é dito por Kern, é uma parte do trabalho que exige empenho e aceitação em medidas iguais. “Para ser honesto, não há uma volta perfeita”, confessa, “Vai sempre haver um pequeno erro aqui ou ali, porque a pista é tão longa que nunca se conseguirá acertar em cada curva e sabemos sempre há alguma coisa que poderíamos ter feito algo melhor. Todos os que são experientes no ‘Ring sabem disso, e é por isso que, com os registos das voltas, é preciso saber quando parar. Pode-se sempre encontrar uns milésimos de segundo num determinado ponto, mas perdê-los novamente noutro lugar”.

Cada volta de Kern no Nordschleife raramente é planeada, uma vez que prefere sempre confiar no tato e no instinto de cada momento. A sua zona preferida é entre Hohe Act e Döttinger Höhe. “É uma longa secção sem retas e não há nenhum momento em que se possa pensar. A entrega é total é preciso forçar o mais que se puder e tirar o máximo partido do carro. Nas retas, começa-se a pensar na velocidade e na travagem, e é sempre melhor não o fazer. Nesta secção tudo se baseia no movimento, curva após curva, e tudo se resume ao posicionamento, à forma como se passa de curva para curva, rodando o carro. É instintivo e é disso que eu gosto muito”.

Como em diversos outros trabalhos, claro que também existem diversas desvantagens e no caso do Nordschleife, a grande maioria está relacionada com a meteorologia. “Ao mínimo indício de chuva, paramos imediatamente, pois ninguém quer arriscar o carro ou a minha saúde. Por isso, por vezes, ficamos simplesmente à espera, na esperança de um tempo melhor no dia seguinte. Já conheço todos os quartos dos hotéis locais”!

Ainda assim, a maioria das recordações de Kern do Nordschleife são incrivelmente positivas, mas uma das que mais destaca aconteceu no verão de 2017. “A minha memória favorita do ‘Ring está a conduzir o GT2 RS para o recorde da volta. Eu só tinha estado envolvido no desenvolvimento do carro um pouco mais no final e foi por isso que a Porsche também enviou o Nick Tandy para fazer o recorde, porque tinham a certeza de que ele faria um bom tempo. Cada um de nós teve três ou quatro tentativas e eu fui um segundo mais rápido. Nick é um dos maiores pilotos de GT do mundo, por isso não pude acreditar que estava a ser mais rápido que ele. E claro, o tempo total da volta foi 10 ou 12 segundos mais rápido do que alguém tinha esperado, por isso todos ficaram entusiasmados no final do dia. Sendo eu a pessoa que o fez – apenas um tipo normal que cresceu a 10 km de Weissach – foi muito especial para mim”.

Com o trânsito que por vezes já na pista e com os mais variados patamares de potência e perícia dos presentes, a grande maioria das pessoas consegue efetuar uma volta ao Nordschleife entre cerca de 12 a 15 minutos. Mas Lars Kern tinha acabado de descer da fasquia dos sete minutos pela primeira vez, fixando o recorde para carros de estrada com tração traseira em 6:47.3. Ainda assim, este era um valor que ainda viria a reduzir em junho de 2021, quando efetuou um tempo de 6:43.3 com um 911 GT2 RS equipado com um kit da Manthey Performance.

Ser o principal foco de atenção por parte de uma data de pessoas, uma vez que continua a ser o piloto mais rápido da Porsche para este tipo de testes, inclui muitas expetativas. E sobre isso, Kern comenta apenas que “Sim, é divertido. Mas muitas vezes a pressão e a ambição das equipas do projeto pairam sobre mim, por isso não posso simplesmente passear por aí a desfrutar da volta. O mundo automóvel inteiro está a olhar para nós, a olhar para os nossos tempos de volta, por isso, a melhor parte é quando está feito e todos estão felizes. E eu ainda estou inteiro”!

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