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Primeiro ensaio Mazda 3 Skyactiv D: uma dor de cabeça para o Golf

By on 27 Fevereiro, 2019

A Mazda volta a investir num segmento duro, muito competitivo e onde o Volkswagen Golf e o Ford Focus têm dominado, o primeiro pela qualidade, o segundo pelo comportamento. O Mazda3 nunca foi um protagonista, mas desta vez as coisas são bem diferentes!

Confesso que a Mazda é uma marca que merece todo o meu respeito, pois abandonou o chapéu dourado da Ford e seguiu o seu caminho. Recordo-me de ter ido conhecer o projeto tecnológico Skyactiv e experimentar o chassis, motores e caixas que os engenheiros da Mazda criaram. Ficaram várias impressões: determinação dos responsáveis da marca em despirem todo o manto Ford dos seus produtos; apostar forte na componente tecnológica, no estilo e na qualidade.

Duas mãos cheias de anos passaram desde esse momento e foi com gosto que encontrei a quarta geração do Mazda3, depois da marca japonesa ter tentado alcandorar-se ao topo do segmento seguindo a receita da ex-parceira Ford. Não resultou em pleno e por isso a Mazda decidiu juntar o melhor dos líderes do segmento: comportamento e qualidade do interior, juntando-lhe tecnologia, equipamento a rodos, um excelente comportamento e uma gama de motores surpreendente, porém, fabulosos em termos de consumos. E um estilo que promete!

Qualidade, ergonomia e ótima posição de condução num interior minimalista de bom gosto

Interior destaca-se

Se o estilo do Mazda3 é delicioso – na minha opinião, claro, sendo que a versão de quatro portas é ainda mais sensual – abrir a porta e sentar nos bancos pensados, especialmente, para adicionar conforto e, sobretudo, apoio para as ancas, coxas e coluna vertebral, é uma bela sensação.

A tendência minimalista manteve-se e botões á nossa frente só mesmo os do sistema de climatização e do arranque/paragem do motor. Por cima, temos um monitor com 8,8 polegadas, virado para o condutor, muito bem integrado num tabliê desenhado com gosto onde a única nota menos conseguida é dedicada à zona onde estão as saídas do sistema de climatização. A Mazda podia ter seguido o exemplo da Audi e ao invés de uma peça de plástico a unir duas saídas, fazer uma grelha única. Ficava mais bonito. 

Na consola central está a alavanca da caixa de velocidades (manual ou automática) e, imediatamente atrás, o comando do sistema de info entretenimento. Agora com novos grafismos e uma resposta muito mais veloz, comandado de forma ideal através de um botão rotativo e três teclas que organizam tudo. Simples, prático e tudo feito com materiais que são suaves ao toque.

A sensação de qualidade é real e nas versões de topo, como uma das que experimentei, há muita pele a revestir o tabliê e os plásticos são resistentes e agradáveis ao toque. A montagem é simplesmente irrepreensível. Como disse, o desenho do tabliê é muito bom e faz empalidecer aquilo que a Volkswagen faz no Golf. Quer isto dizer que o interior do Mazda 3 é um local aprazível para estar adicionando uma excelente posição de condução que nos coloca frente a um volante com vários comandos muito bem integrados.

Os comandos estão bem calibrados, como por exemplo, a alavanca da caixa de velocidades manual (não experimentei a automática) que é suave e não cria problemas ao condutor. As hastes que controlam o sistema de iluminação e as escovas de limpeza do para brisas e do óculo traseiro, também têm um tato firme e que exala qualidade. Se procurarmos bem, encontramos alguns plásticos de menor valia, mas como a qualidade da montagem é excelente, acredito que o interior do Mazda não irá criar dificuldades durante a utilização.

Atrás, como se diz em bom português, a “porca torce o rabo” pois além da forma da carroçaria e, particularmente, da superfície vidrada das portas traseiras, provocar alguma claustrofobia, o espaço para arrumar as pernas não é fantástico. E na largura também não. Peguemos na fita métrica. Espaço para as pernas atrás: 891 mm, sendo que se o condutor for alto esta cifra diminui consideravelmente. Espaço ao nível da cabeça atrás: 947 mm. Espaço ao nível dos ombros atrás: 1.359 mm. 

Vamos á comparação com o VW Golf. Espaço para as pernas atrás: 903 mm (mais 12 mm). Espaço ao nível da cabeça atrás: 967 mm (mais 20 mm). Espaço ao nível dos ombros atrás: 1440 mm (mais 41 mm).

Na bagageira existem 358 litros que chegam aos 1026 com o rebatimento do banco traseiro. Ora, o VW Golf oferece 380 litros (mais 22 litros) e aproveitando o espaço libertado pelo rebatimento do banco traseiro, chega aos 1270 litros (mais 244 litros).

Provavelmente estaremos perante um caso da forma sacrificar a função, mas fica claro que o Mazda 3, no que toca ao espaço disponível, está atrás do líder do segmento, o VW Golf.

Motor frugal e agradável

A Mazda sempre se pautou por seguir o seu próprio caminho no que toca aos motores e o programa Skyactiv prometia isso mesmo. A casa japonesa cumpriu e se ainda não está disponível o excelente Skyactiv X, a gama do Mazda 3 oferece um bloco a gasolina com hibridização e 2.0 litros de cilindrada e este motor 1.8 litros turbodiesel. Pode parecer estranho estarmos a falar de cilindradas altas e potências curtas. No caso do Skyactiv D 1.8, são somente 118 CV e 270 Nm de binário. Portanto, se a ideia é procurar um temperamento desportivo, tire dai a ideia.

Outra coisa que não vale a pena fazer é levar a agulha do conta rotações até ao limitador de rotação. Não ganha nada com isso e desperdiça a enorme, fantástica vantagem deste bloco. 

A elevada cilindrada permite que o motor Skyactiv D seja um verdadeiro pisco na hora de gastar gasóleo, com a Mazda a reclamar – e aqui vou levar em linha de conta as jantes de 18 polegadas que estavam no carro que ensaiei – 5,7 l/100 km debaixo do protocolo WLTP. Pois muito bem, com uma ida à Serra de Sintra para perceber qual o comportamento do carro e duas viagens pela autoestrada, o consumo final foi, exatamente de… 5,7 l/100 km! E mesmo na hora de puxar pelo motor – onde percebi que é mais fácil andar com ele solto – nunca os valores subiram acima dos 7 litros. 

Ou seja, a Mazda oferece, mesmo, um carro muito económico. É verdade que o motor tem alguma inércia inicial, mas assim que chegamos ali acima das 1200 rpm, o carro desperta e nem parece que tem apenas 118 CV. A caixa está muito bem escalonada, certamente pensada para rimar com as características do motor, que é elástico o suficiente para não nos deixar incomodados com a potência limitada. E como disse acima, em estradas sinuosas não é preciso estar constantemente a recorrer á caixa e deixar o carro soltinho é o melhor.

Comportamento excelente

O Mazda 3 tem um eixo traseiro de torção e foi perguntado a Kota Beppu, o responsável pelo projeto desta quarta geração do Mazda3, porque razão não utilizaram um eixo multibraços independente. O simpático engenheiro japonês enleou-se em explicações sobre as afinações da suspensão e a necessidade de garantir um comportamento mais desportivo. Como falou em japonês e a tradutora simultânea também tropeçou nos atacadores, a explicação ficou enviesada. Honestamente, a escolha é ditada por razões economicistas, pois o eixo rígido é mais barato e há muitos exemplos de carros com esta solução que têm excelente comportamento.

O Mazda3 é um desses casos. O chassis é rígido, a frete tem muita aderência e aceita entrar em curva sem hesitação, controlando bem os movimentos da carroçaria com o aumento de velocidade em curva, aderindo lateralmente de uma forma impressionante. E para os mais afoitos, levantar o pé a meio do apoio permite que a traseira rode, mas o excelente equilíbrio do carro permite que tudo regresse rapidamente ao normal. A direção tem o peso correto, mas não é um modelo de rapidez e a sensibilidade também não é muita. Porém, a Mazda fez um melhor trabalho neste capítulo no 3 que a Volkswagen fez no Golf. 

A utilização do eixo de torção nota-se quando analisamos o conforto. O Mazda3 não é desconfortável, muito longe disso, mas falta-lhe algum refinamento no eixo traseiro, ao lidar com lombas, bandas sonoras e pisos mais degradados. Neste particular, tanto o VW Golf como o Ford Focus, fazem melhor que o Mazda3. Adivinhem… ambos têm eixo traseiro independente multibraços.

Veredicto

Que agradável surpresa foi este Mazda 3! Para além do estilo que é sensual e altamente sedutor, a quarta geração do modelo oferece um interior muito acolhedor, de qualidade e bem desenhado, com tecnologia de topo, um equipamento riquíssimo em qualquer dos níveis propostos (Evolve e Excellence) e um comportamento de elevado nível. Perde na habitabilidade e na bagageira e, olhando todo o conjunto e para a imagem de marca da Mazda, ainda não será esta quarta geração que vai destronar o Golf ou o Focus. Com um preço de 30.305 euros para o Evolve, o Mazda3 1.8 Skyactiv D faz melhor que o Ford Focus 1.5 TDCI (31.250 euros) e o VW Golf 1.6 TDI (33.047 euros), deixando de lado o Excellence que custa 35.616 euros. Contas feitas, será o gosto de cada um a decidir, mas deixe-me dizer-lhe que tem aqui uma belíssima proposta, um carro bonito, com um excelente interior e, sobretudo, um motor que exibe consumos fantásticos.

FICHA TÉCNICA

Mazda3 1.8 Skyactiv-D Evolve

Motor4 cilindros em linha, injeção direta, turbocompressor, diesel; Cilindrada (cm3)1759; Diâmetro x curso (mm)79,0 x 89,7; Taxa compressão14,8:1;Potência máxima (cv/rpm)116/4000; Binário máximo (Nm/rpm)270/1600 – 2600;Transmissão e direçãoTração dianteira, caixa manual de 6 velocidades; direção de pinhão e cremalheira, com assistência elétrica; Suspensão(fr/tr)Independente McPherson; eixo de torção; Dimensões e pesos(mm)Comp./largura/altura 4460/1795/1435; distância entre eixos 2725; largura de vias (fr/tr) 1570/1580; travões fr/tr. Discos vent./Discos; Peso (kg)1299; Capacidade da bagageira (l)358/1026; Depósito de combustível (l)51; Prestações e consumos aceleração 0-100 km/h (s) 12,1; velocidade máxima (km/h) 192; Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) 5,8/6,4/5,6; emissões de CO2 (g/km) 148; Preços (Euros)30.305 euros.

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