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Primeiro ensaio Renault Clio Hybrid: e não é que funciona bem?

By on 23 Julho, 2020

Inteligentemente, a Renault não colocou todos os ovos no mesmo cesto e mantendo um pé no caminho da mobilidade elétrica, esticou o outro até á eletrificação via hibridização. A proposta da casa francesa chama-se E-Tech e no Clio… funciona. 

Após perceber que o Zoe, mesmo líder de mercado, não vende tanto nem tão depressa como esperava e que as motorizações diesel são cada vez mais caras para cumprirem as normas de controlo de emissões, a Renault atirou-se ao estirador e criou algo diferente. O sistema E-Tech híbrido total e híbrido Plug In que é muito diferente daquilo que existe no mercado.

Diferente porque ao contrário do sistema, por exemplo, da Toyota, não usa a caixa CVT desenvolvida pelos japoneses, nem sequer deitou mão a uma caixa de dupla embraiagem como sucede com os híbridos do grupo VW ou da Hyundai. Já expliquei em outro texto como funciona o sistema, mas vou resumir.

A ideia do E-Tech é manter o motor a funcionar no patamar de rotações e regime de aceleração mais eficiente, o que significa que algumas vezes está a oferecer impulso ao carro, outras vezes isso significa estar a carregar a bateria. Enfim, é este o objetivo de um híbrido, mas a Renault conseguiu isso com um sistema simples e sem os efeitos de elástico típicos de outros híbridos. Não há embraiagem porque o carro arranca, sempre!, em modo 100% elétrico e a marcha atrás é, sempre!, feita pelo motor elétrico (E-Motor), pelo que a caixa não tem marcha atrás. A caixa não é sincronizada e tem dentes direitos como na competição. E aqui, para evitar termos as passagens de caixa à bruta como sucede nos carros de competição, a Renault instalou outro motor elétrico (HSG), mais pequeno, que controla a velocidade do volante do motor e suaviza a engrenagem das mudanças. Este motor elétrico é do género motor de arranque/gerador e está responsável pelo bloco começar a trabalhar. O motor de quatro cilindros com 1.6 litros é muito simples (duas válvulas por cilindro, sem variação do tempo de abertura das válvulas e sem turbo) e no que toca aos acessórios que consomem energia, não há correias pois as bombas de água, óleo, ar condicionado e do servo freio são, todas, elétricas.

O que a Renault quis com o E-Tech foi oferecer um sistema híbrido simples e mais barato – a caixa é complexa, mas é uma peça essencialmente mecânica – que permita apagar da gama o diesel sem que o cliente tenha de pagar mais para ter um carro mais amigo do ambiente.

E a verdade é que o sistema deixou-me boquiaberto, pois a caixa parece uma unidade automática normal, quase não damos pelas passagens de caixa e tudo é feito com a suavidade que uma caixa de dentes direitos não tem! Ah! e o som rima com a velocidade, não há o efeito elástico dos Toyota, por exemplo. Curiosamente, a caixa tem apenas 4 velocidades, mas 15 combinações diferentes.

E no que toca á performance, não há queixas: com os motores elétricos, o bloco 1.6 litros debita 140 CV (91 CV do motor térmico + 36 CV do E Motor + 15 CV do HSG) o que permite avançar sem dificuldades, até porque o sistema E-Tech mantém o bloco térmico sempre na sua zona de utilização ideal. 

É verdade que quando recorremos ao hipotético “kickdown”, o E-Tech é um nadinha preguiçoso, quando o sistema deixa as rotações subirem, o motor mostra-se menos refinado (na maioria das vezes é silencioso pois o E-Tech mantém o motor sempre na zona ideal de funcionamento), mas a verdade é que o sistema é muito mais agradável que um motor diesel. E até há um modo Sport que coloca o motor térmico mais em jogo para os que querem mais performance, pois assim há mais sumo na bateria para ajudar. Mas não vale a pena acreditem!

Até porque no modo Eco ou até no My Sense, o Clio anda muito tempo em modo elétrico, não os 80% que a Renault diz, pois a casa francesa fala de “80% do tempo” e não “80% dos quilómetros”. Ora, se estiver parado num engarrafamento, o tempo passa, não vai a lado nenhum e o carro esteve, efetivamente, em modo EV…

Seja como for, o carro anda algum tempo em modo elétrico, reclama a Renault que poupa 40% de combustível em ambiente urbano. Em estrada aberta, a poupança é menor.

O mais curioso do sistema E-Tech é a sua forma de controlar os motores. Quando o nível da bateria está baixo, o sistema encarrega-se de carregá-la e podemos estar a conduzir com o pé ligeiro no acelerador e o bloco acelerar mais para o efeito de carga da bateria. E mais curioso ainda é o facto do sistema colocar em ponto morto a caixa e acelerar o motor (mesmo em andamento) para carregar a bateria, assim que deteta que os níveis de energia estão baixos e pode não ser possível, em caso de paragem, recolocar o motor a funcionar ou assegurar uma marcha atrás. Tudo feito com um nível de ruido baixo que o som do rádio abafa sem problema e sem incomodar o condutor. Dizer, também, que o sistema E-Tech desliga o motor térmico das rodas abaixo dos 15 km/h, passando a utilizar apenas energia elétrica. Mas não se espante se rolar em modo EV e escutar o rumor do motor… este está desligado das rodas, mas está a recarregar a bateria.

Outro problema que a Renault enfrentou de forma totalmente satisfatória foi a travagem. A marca investiu muito no sistema de travagem que consegue forte regeneração de energia (especialmente no modo B que pode ser selecionado na alavanca) mas sem as típicas inconsistências e dificuldade de dosear a travagem. Tal como sucede com o sistema E-Tech, a travagem faz-nos esquecer que este é um híbrido!   

Para o fim fica o melhor de tudo. Durante o curto ensaio que efetuei consegui encaixar uma ida á autoestrada, uma estrada muito sinuosa e um bom pedaço de cidade. Ou seja, aquilo que é o percurso típico pendular casa-trabalho. Sem me preocupar com os consumos e com uma média de 50,3 km/h para o percurso de 22 km, o Clio Hybrid devolveu-me um consumo de 4,2 l/100 km, menos que o anunciado pela Renault! Simplesmente brilhante!

Veredicto

Preciso de mais quilómetros para vos dar uma opinião final definitiva, mas pelo que experimentei, a Renault tem aqui um Ás de trunfo para o segmento dos utilitários, pelos consumos, pelas performances (180 km/h e 9,9 segundos dos 0-100 km/h), pela agradabilidade de utilização e porque o Clio está entre os melhores carros do segmento. Sinceramente, gostei muito e tendo o mesmo preço do Clio diesel, venha de lá este Clio Hybrid!

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