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Sabe quanto a Ferrari ganha em cada carro? E a VW? O AUTOMAIS conta-lhe tudo!

By on 1 Junho, 2020

Na indústria automóvel, haverá sempre duas formas de fazer dinheiro: margem de lucro alargada ou escala de produção. Em tempos de crise, qual é a mais rentável?

Num mercado de volume, termos a tentação de dizer que será sempre a escala a ditar o sucesso de cada construtor. Até porque esta é uma indústria em que os “major players” entendem ser um sucesso quando chegam aos 4% de margem de lucro operacional. Mas para lá chegarem a unidade de medida é o milhão e não os milhares.

Para o grupo VW, para a PSA, a FCA ou a Aliança Renault Nissan Mitsubishi, a escala é sempre em milhões de unidade vendidas, o que força a investimento avultado em pesquisa e desenvolvimento, marketing, atendimento ao cliente e publicidade. Só assim conseguem libertar margem de lucro, sempre abaixo dos dois dígitos devido á despesa. E isso leva-nos ao valor ganho por cada marca em cada carro que vende.

Mas primeiro olhemos para alguns exemplos de lucros sólidos em 2019. A Toyota ganhou em 2019 qualquer coisa como 20,035 mil milhões de euros, enquanto o grande rival da Toyitan para ser o número 1 do mundo, o grupo VW, embolsou 16,7 mil milhões de euros. Números sólidos e robustos, é verdade. Mas… e quanto é que cada um ganhou em cada carro?

A Toyota ganhou… 1.954 euros e a Volkswagen um pouco menos, 1.536 euros por carro, isto já depois de todas as despesas deduzidas com a venda de cada modelo. Um valor baixo que oferece um montante de lucro operacional elevado porque ambos os gigantes vendem millhões de carros todos os anos. As atrapalhadas Ford e Nissan, ganham, respetivamente, 95 e 93 euros em cada carro que vendem. Um problema grave que explica a situação que vivem. 

Estes são os resultados dos construtores que apostam no volume e na escala para serem rentáveis com a tal margem de lucro libertada a situar-se num intervalo entre 3 e 6% de margem. 

Do outro lado está a aposta na maximização do lucro e aqui a Ferrari não dá chances a ninguém: a casa de Maranello ganha 86 mil euros em cada carro construído! Sim, leu bem… 86 mil euros! São 23,2% de margem de lucro operacional de uma produção de 10.131 carros em 2019. 

Para perceberem a medida do extraordinário trabalho da Ferrari, vamos a comparações. A BMW tem de vender 30 carros (2.866 euros) para conseguir os mesmos 86 mil euros de lucro operacional, a Toyota, 44 unidades, a Volvo 45 carros (1911 euros por carro), a VW nada menos que 56, o grupo PSA tem de vender 65 carros (1.323 euros/carro) e a Mercedes, 67 (1.283 euros). A FCA tem de vender 95 unidades (905 euros/carro), a Renault 122 (843 euros/carro), a Hyundai 135 (637 euros/carro) e a General Motors 136 carros (632 euros/carro). A Ford tem de vender 908 e a Nissan 926 carros, enquanto a Jaguar Land Rover precisa de 207 unidades (415 euros/carro) e os coreanos da Kia têm de vender 155 carros (554 euros por carro) para chegar aos 86 mil euros que a Ferrari ganha em cada carro.

Mas, porque são estes números relevantes?

A recessão que vamos experimentar será brutal devido à travagem a fundo da economia devido á pandemia de Covid-19. Provavelmente será maior que a experimentada em 2007/08 e nessa época, foram precisos mais de 8 anos para recuperar na Europa e cerca de cinco nos EUA. Acredita-se que sendo uma travagem universal, a recuperação seja muito mais rápida que a da crise, mas a China não está a evoluir como nessa época. 

Ora, perante vendas em queda abrupta, encontrar o lucro necessário para a manutenção da empresa a funcionar assente numa base de escala e volume de vendas, será uma tarefa quase impossível. Por essa razão, imediatamente surgem os planos de corte de despesa, com redução da produção, dos postos de trabalho, das gamas á venda, dos investimentos em marketing e publicidade. Ainda por cima numa época em que os políticos decidiram apoiar a mobilidade elétrica empurrando para os seus braços os construtores colocados entre a espada e a parede com reduções drásticas nas emissões poluentes. 

Claramente, os modelos de negócio assentes no volume estão em dificuldades porque a procura vai ser muito menor e os resultados financeiros já estão a refletir isso mesmo. A Renault registou prejuízos em 2019 e em 2020 as coisas continuam negras e o anúncio do despedimento de 16.400 trabalhadores é o sintoma mais claro disso.

Por outro lado, está lançada a oportunidade de comoras, fusões, enfim, ideias salvadoras que permitam manter a escala e a aposta nos volumes elevados de vendas. Por isso mesmo é que a FCA e a PSA estão tão empenhadas em manter a fusão entre os dois grupos, pois precisam do tamanho das vendas que a produção de ambos vai oferecer e conseguir encontrar com sinergias e poupanças industriais, mais margem de lucro operacional mesmo que com menos vendas.

Porque, no universo automóvel, o tamanho e o número de vendas é sempre o mais importante. Pode a Ferrari ganhar 86 mil euros em cada carro que vende, mas para todos os outros, o volume de vendas é que será sempre importante. E em tempos de vacas gordas ou magras, vender muito num mercado de milhões, continua a ser primordial.

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