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Será que os E-Fuels podem ser solução para o futuro?

By on 7 Março, 2024

Os E-Fuels chegaram e passaram a ser vistos como a salvação para os petrolheads e para as pessoas que não acreditam na tecnologia dos veículos elétricos. Quando foi dito que era possível fazer combustível sem piorar as emissões de carbono, todos os amantes dos motores a combustão suspiraram de alívio. A realidade, no entanto, é algo diferente.

O conceito de E-Fuel (ou E-combustível em português) é relativamente recente. Trata-se de um processo pelo qual se fazem combustíveis graças a fontes renováveis. A ideia base está na captura de dióxido de carbono da atmosfera ou de outras fontes (industriais, por exemplo) para produzir um combustível líquido que pode ser usado nos motores de combustão interna.

Há vários processos a serem utilizados e aprimorados e marcas como a Porsche e Honda estão na vanguarda deste tipo de tecnologia. A Porsche e a Siemens Energy abriram em dezembro uma fábrica piloto no sul do Chile, subsidiada pelo governo alemão. A instalação terá capacidade para produzir 55 milhões de litros de e-fuels anualmente até 2024, expandindo-se para 550 milhões de litros em 2027. A Honda também está nesta corrida, aproveitando a sua experiência com os aviões ligeiros, como o seu HondaJet, para desenvolver catalisadores e outros ingredientes necessários para a comercialização.

Não é de espantar, portanto, que as duas marcas tenham ficado radiantes quando souberam que a EU abriu a porta à comercialização de carros com motores de combustão interna depois de 2035, desde que apenas fornecidos por E-Fuels. A gigantesca estrutura montada para fornecer combustível aos motores atuais poderá ser aproveitada e os carros que usamos e usaremos a curto e médio prazo podem ainda ter mais alguns anos pela frente, um cenário visto até como ecológico. Mas os E-fuels levantam algumas dúvidas.

Alguns especialistas afirmam que este caminho vai tirar o foco necessário para a mobilidade elétrica que, quase inevitavelmente, será a realidade nas próximas décadas. A eficiência dos motores elétricos é um elemento chave nesta revolução que não pode, nem deve ser ignorada e o futuro parece ser inevitavelmente elétrico. Mas o problema dos E-fuels nem é tanto a desconfiança. É um problema bem real.

Dinheiro. É sempre o cerne da questão e neste caso também o é. Em 2021, a Porsche esperava que os custos de produção na sua fábrica do Chile começassem em 10 dólares por litro, caindo para 2 dólares por litro uma vez iniciada a produção em grande escala. 2 dólares, ou 1.85 € (olhando à taxa de conversão atual) ainda é um preço caro (e ainda falta o transporte e comercialização e… impostos). O Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão estima o custo de fabrico de e-fuel no país em 700 ienes por litro, ou cerca de 4.9 €. Não precisamos de lembrar os preços atuais dos combustíveis que ainda nos fazem suar todos os dias e que não chegam a estes níveis.

Há também uma questão de eficiência. Um veículo elétrico que funciona com energia renovável pode viajar cerca de cinco vezes mais longe do que um veículo equivalente movido a combustível eletrónico. A energia perde-se em múltiplos pontos, desde o fabrico até à condução, incluindo a produção de hidrogénio a partir da água, combinando-o com dióxido de carbono e queimando o combustível no motor. É um processo que deixa muito a desejar ao nível da eficiência e num mundo em que os recursos têm de ser muito bem geridos, não parece uma solução sólida… para já.

O sucesso dos E-fuels depende do avanço na tecnologia e na forma como poderão ser criados. Uma coisa parece ganhar força. Os e-fuels não são ainda a salvação. A procura concorrente de aviões e navios também pode ser um problema (veículos cuja transição para a eletricidade é muito mais laborioso). A LMC Automotive espera que a produção de combustíveis sintéticos atinja 2 mil milhões de litros até 2026 e 19 mil milhões de litros até 2028… Apenas 5,5% da procura total da indústria aeronáutica, o que sugere que pouco provavelmente estará disponível para os automóveis.

É preciso encarar os elétricos, os e-fuels, e toda a nova mobilidade com cautela. É uma altura importante e devemos tomar decisões acertadas para o futuro. A solução ideal parece ser uma mistura das várias soluções já apresentadas (e outras que ainda virão). Os radicalismos são pouco… eficientes nisto da nova mobilidade. 

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