Renault Rafale E-Tech 4×4 300 cv: Alto desempenho
O truque o preço do Renault 5? Fazer um carro em menos de 10 horas

Um pedaço da história da Renault Sport nas palavras de Laurent Hurgon

By on 26 Fevereiro, 2023

Laurent Hurgon é o principal piloto de testes da Renault Sport e foi uma das peças essenciais no desenvolvimento de alguns dos modelos mais brilhantes lançados pela marca francesa nas últimas décadas.

O lançamento do Renault Mégane R.S. Ultime representa o ponto mais alto no desenvolvimento de modelos desportivos da Renault Sport, que vai agora dar lugar a uma nova linha de modelos assinada pela Alpine. Por causa disso, estamos agora perante um excelente momento para recordar algumas das melhores criações deste departamento da marca francesa, com a ajuda de Laurent Hurgon, piloto de testes e desenvolvimento da Renault Sport e agora, da Alpine Cars, com base em Les Ulis, França, nestes últimos 20 anos.

Basta perguntarmos a Laurent Hurgon se alguma vez pensou noutro tipo de carreira para que a resposta saia de imediato de uma forma bem determinada: “Trocar a vida que tenho por outra? Nem pensar! Tenho tanta sorte em ter trabalhado na Renault Sport todos estes anos. Estar envolvido no desenvolvimento de carros de estrada de alto desempenho é algo com que a maioria dos loucos por carros pode apenas sonhar.

Um Spider como ponto de partida

Depois do trabalho efetuado com o Clio Williams, que tanto sucesso teve, o primeiro projeto totalmente desenvolvido pela Renault Sport teve como base a visão e a engenharia deste novo departamento para um automóvel desportivo. O novo Spider Renault Sport com o nome de código W94, foi o primeiro modelo de estrada a incluir o nome da Renault Sport e era um fantástico desportivo com apenas dois lugares, sem pára-brisas (na primeira versão). Tinha um chassis de alumínio, o motor instalado numa posição central traseira e foi uma das principais estrelas do Salão de Genebra em 1995, acabando por ser produzido entre 1995 e 1999 na fábrica de Dieppe, na Normandia.

A base de trabalho criada com o Spider acabou por dar origem a diversos modelos de produção, que tinham o mesmo foco no desempenho dinâmico. No ano 2000, o Clio 2 contava com prestações que conseguiam superar o Clio Williams, ainda que, com um visual menos apelativo. E depois, também o Clio 3 e o Clio 4 seguiram a mesma receita. Mas de todas as criações da Renault Sport nesta época, a que teve mais notoriedade foi mesmo o Clio V6, também apresentado no ano 2000. Tinha um motor V6 de 230 cavalos, instalado atrás dos assentos e com a tração a passar ao eixo posterior, mas destacava-se, sobretudo, pelos enormes alargamentos da carroçaria e pelas entradas de ar laterais. O Clio V6 tornou-se num automóvel de coleção bastante procurado, que já alcança valores acima dos 100 mil euros sempre que troca de proprietário.

Depois dos diversos projetos realizados com o Clio, a Renault acabou por se concentrar mais do desenvolvimento dinâmico do Mégane, usando toda a experiência que ia conquistando na competição. E claro, um dos principais pilotos de desenvolvimento continuou a ser Laurent Hurgon. “A Renault Sport tinha uma sólida experiência no desporto automóvel e levámos as lições aprendidas nas pistas de corridas e nos ralis de todo o mundo aos nossos automóveis de estrada. Um exemplo foi a paragem de compressão hidráulica que apareceu pela primeira vez no Clio R.S. e que foi o fruto da nossa experiência de rali“.

Outra tecnologia que Laurent Hurgon destaca é a direção nas quatro rodas. “A primeira vez que a experimentei, foi uma experiência totalmente nova e revolucionária”, que estava destinada a todos os Mégane R.S., incluindo o mais radical R26R. “Para nós, o R26R marcou o início de uma nova era. O nosso objetivo era simplesmente o de transformar o Mégane 2 R.S. num carro de competição. Assim, retirámos o banco traseiro, substituímos os vidros por plexiglass, e instalámos um escape de titânio, capô de carbono, etc.”.

Alguns dos célebres desenvolvimentos deste “Pocket-Rocket” foram realizados no famoso Nordschleife de 73 curvas, em Nürburg, na Alemanha. “O Nordschleife foi perfeito para o trabalho. Tem todos os tipos de curvas, desde lentas a médias e extremamente rápidas. É tão exigente, especialmente no equipamento de corrida e no corpo. Tudo sofre! Realizámos lá um programa intensivo de testes de resistência e estabelecemos vários novos recordes para um carro com tração às rodas dianteiras“!

O primeiro recorde foi batido por Vincent Bayle em 2008, conduzindo o R26R. Laurent Hurgon afixou mais três: em 2011 no Mégane 3 Trophy, em 2014 no Mégane 3 Trophy-R e em 2019 no Mégane 4 Trophy-R. “Foi uma aventura fantástica. A sinergia na equipa foi excecional, com todos a trabalharem para um objetivo comum. Tive uma sorte incrível por ter sido o tipo no final do processo. Estou tão orgulhoso do que conseguimos. Foi um privilégio. Nunca o esquecerei“. E, entretanto, foram batidos mais recordes noutras pistas igualmente famosas, como Spa e Suzuka.

Tendo trabalhado nos vários projetos realizados com o Mégane R.S., Laurent Hurgon tem um ponto fraco muito particular por dois deles: “O R26R, claro, e o Mégane 4 Trophy-R. Tivemos o nosso trabalho muito bem definido nestes últimos projetos. Em termos de desempenho, a fasquia tinha sido colocada muito, muito alta e o seu desenvolvimento manteve-nos muito focados. Quando conduzi este Trophy-R no Nordschleife, foi a única vez que tive de recorrer a uma segunda volta“.

No dia 1 de maio de 2021, a Renaut Sport Cars passou a chamar-se Alpine Cars, o que significa que o Mégane R.S. Ultime será o último projeto aventura Renault Sport. Foi revelado em janeiro deste ano e inclui todos os mais recentes desenvolvimentos da Renault Sport, incluindo o eixo dianteiro com pivôs independentes, o chassis Cup rebaixado, os batentes de compressão hidráulica e o sistema de quatro rodas direcionais 4Control. Será comercializado numa edição limitada de 1976 unidades, o ano de criação da Renault Sport, e serão todos assinados por… Laurent Hurgon.

Ainda que a Renault Sport tenha acabado e se tenha encerrado um capítulo carregado de história e modelos icónicos, este não deverá ser um motivo de tristeza para os maiores apaixonados da marca, uma vez que todo o “Savoir-Faire” desta equipa se vai manter inalterado, mas agora, com todos os modelos a serem batizados com o nome da Alpine, outra designação icónica no mundo automóvel.

Ensaios: consulte os testes aos novos carros feitos pelos jornalistas do Auto+ (Clique AQUI)